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Conhecendo os instrumentos fabricados pelo Ponto de Cultura Coró de Pau Arte, Ofício e Produção

Este trabalho consiste em apresentar à comunidade goiana parte importante das expressões culturais e artísticas que a Associação Coró de Pau desenvolve no Estado de Goiás, mais especificamente em Goiânia, na sede do Ponto de Cultura Coró de Pau Arte, Ofício e Produção desde 2002: a oficina de produção artesanal de instrumento de percussão, liderada pelo mestre Alemão e sua esposa Geovanna. É importante instrumento que contribui diretamente para o reconhecimento da cultura afro-brasileira por toda a comunidade goiana, envolvida direta ou indiretamente nas atividades da associação. O trabalho teve como principal objetivo direcionar os resultados das atividades de intervenção desenvolvidas e, sobretudo, criar a consciência que ações como estas, independentemente do tamanho e do resultado, justifica-se simplesmente pelo poder de alcance e de enriquecimento do conhecimento. Este, deixado como legado ao outro, que recebe informação em forma de cultura e cultura em forma de arte, será o instrumento que contribuirá essencialmente para a formação de um cidadão que compreende os seus direitos e deveres para com a sociedade sob todos os aspectos.

Palavras-chave: Associação Coró de Pau. Confecção de Instrumentos Musicais. Cultura Afro-Brasileira.

Aluna: Maria Amélia de Souza Santos

Polo: Alto Paraíso

Orientadora Acadêmica: Fátima Regina Almeida de Freitas

Coordenadora de orientação: Vânia Dolores Estevam de Oliveira

Anexos

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1. INTRODUÇÃO

Esta atividade de intervenção salienta os instrumentos afro-brasileiros e tem como objetos de estudo os instrumentos fabricados desde 2002 pelo Ponto de Cultura Coró de Pau - Arte, Ofício e Produção, localizado na Rua 226, Qd.71, Lt.50, St. Universitário - DCE-UFG, Goiânia-GO. As ações foram realizadas em conjunto com a também discente, da Especialização Interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania, Aline Ribeiro, com a qual o início e o fim da execução desta proposta convergem ob a perspectiva que cada uma imprimiu sob o aspecto dos objetivos específicos.

A importância dos estudos realizados, que culminaram nas ações de intervenção, se dá, inicialmente, a partir das reflexões experimentais e teóricas sobre o tema dos instrumentos afro-brasileiros. Mais especificamente sob o prisma dos instrumentos confeccionados e utilizados pelo Coró de Pau em suas apresentações culturais, com o intuito de revelar o seu amplo valor e contribuir com registros, através das atividades que perpassam desde a criação dos instrumentos musicais, ensaios e apresentações da associação Coró de Pau, com a finalidade de salvaguardar a memória cultural produzida pela associação. Destacando que a apresentação destes resultados se deu por meio de suportes, como banners, e em oficinas que visavam suprir a carência de informação e conhecimento sobre tais manifestações culturais na comunidade goiana.

Entende-se por salvaguarda: as medidas que visam assegurar a viabilidade do patrimônio cultural imaterial, que compreendem: a identificação, a documentação, a pesquisa, a preservação, a proteção, a promoção, a valorização, a transmissão, essencialmente pela educação formal e não formal, assim como a revitalização dos diferentes aspectos desse patrimônio (CONVENÇÃO PARA A SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL, 2003).

A partir destas considerações, buscou-se elucidar as questões referentes à inserção do Coró de Pau, na lógica do registro das oficinas de criação de instrumentos musicais da cultura afro-brasileira, para que essas atividades sejam divulgadas com o intuito de fortalecer a identidade cultural e o exercício dos direitos culturais e da cidadania. O objetivo geral desta proposta foi investigar, inventariar e apresentar os instrumentos musicais afro-brasileiros confeccionados artesanalmente pelo Ponto de Cultura Coró de Pau Arte, Ofício e Produção, através de um produto que atue como intermediador entre esta manifestação cultural e a comunidade goiana. Entretanto, buscou-se, de modo específico, atender às seguintes questões: apresentar o ponto de cultura quanto à sua historicidade; caracterizar os recursos humanos nele atuantes, a partir de sua relação quanto à qualificação, tempo de atuação profissional e função desempenhada; investigar quais instrumentos musicais são produzidos na oficina do Ponto de Cultura Coró de Pau Arte, Ofício e Produção.

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Este relatório estrutura-se a partir dos seguintes itens: introdução, desenvolvimento e conclusão. Trata-se ainda de abordagens conceituais sobre os instrumentos produzidos pelo ponto de cultura, sendo eles: afoxé, alfaia, atabaques, batá, bongô, congas, djembê, tumbadoras e o xequerê; além de fazer um breve levantamento histórico sobre a Associação Coró de Pau. Com finalidade exploratória e o uso de uma abordagem qualitativa, adaptada a um projeto de intervenção, tende a despertar a necessidade de uma ampla visão sobre a real situação do objeto de estudo que propiciou a ação de intervenção, sob os mais variados aspectos e prismas.

É notório que práticas culturais que aproximem a população das manifestações culturais e, mais propriamente, de sua cultura, são essenciais e contribuem para a formação de indivíduos, com a valorização e a identificação do cidadão quanto as suas matrizes históricas. A partir do momento que há apropriação dessa identidade, os indivíduos envolvidos nestes processos tendem a atuarem como “sujeitos” que replicarão os conhecimentos e as informações culturais recebidas para toda a comunidade. Horta (1999, p. 6) reforça que “conhecimento crítico e a apropriação consciente pelas comunidades do seu patrimônio são fatores indispensáveis no processo de preservação sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania.”

Depois de todo o desenvolvimento e aplicação das ações propostas nesta intervenção, sugere-se à associação um aumento no empenho da promoção das atividades culturais por ela executadas, não ficando restrita tão somente à prática da cultura em si através das atividades, mas também através de sua promoção, no sentido de divulgar as ações culturais desenvolvidas de forma a facilitar o acesso à cultura e a solidificação desse conhecimento pelo indivíduo. Objetivando, assim, contribuir também com a formação da identidade cultural e cidadania.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 OBJETIVO GERAL

Investigar, inventariar e apresentar os instrumentos musicais afro-brasileiros confeccionados artesanalmente pelo Ponto de Cultura Coró de Pau Arte, Ofício e Produção, através de um produto que atue como intermediador entre esta manifestação cultural e a comunidade goiana.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  1. Apresentar o ponto de cultura quanto a sua historicidade;

  2. Caracterizar os recursos humanos, pesquisando em relação a sua qualificação, tempo de atuação profissional e sobre a função desempenhada;

  3. Investigar quais instrumentos musicais são produzidos na oficina do Ponto de Cultura Coró de Pau Arte, Ofício e Produção.

2.3 BREVEAPRESENTAÇÃO DO CORÓ DE PAU

Para iniciar os estudos sobre os instrumentos musicais afro-brasileiros confeccionados pela Associação e Ponto de Cultura Coró de Pau Arte, Ofício e Produção foi necessário, primeiramente, buscar compreensão sobre sua origem e finalidades. Segundo Geovanna de Castro , atual presidente da Associação, a origem da nomenclatura Coró de Pau aconteceu através da alusão a um coró que é encontrado dentro de troncos de madeira e alimenta-se dela ocasionando orifícios; da mesma forma, alguns instrumentos que quando escavados “transformam-se” em instrumento musical, o coró.

Dados obtidos em entrevista informal realizada por Aline Ribeiro em 30 de maio de 2015.

O Coró de Pau foi fundado em 2002, por iniciativa de:

Claudinei Santos do Amaral, mestre "Alemão" nasceu em São Paulo, no bairro de Itaquera, na zona leste da cidade. Foi lá que, segundo ele, aconteceu o primeiro contato com a cultura negra, a partir de uma oficina de confecção de instrumentos africanos tradicionais. Ele reconhece, no entanto, que sua grande escola foi poder "tocar" nos cultos afro-brasileiros, como candomblé e umbanda (SEDUCE, 2014).

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Com fortes influências religiosas afrodescendentes, a associação objetiva divulgar a cultura popular brasileira através da música e da produção dos instrumentos tradicionais brasileiros e afro-brasileiros com fidelidade. O intuito é contribuir com o propósito de utilizar a expressão artística na construção de uma sociedade onde as relações humanas sejam construídas e fundamentadas na fraternidade e na equidade social e cultural. Em 2005, Geovanna de Castro, bacharel em história e também fotojornalista formada pela Escola Gris Art de Barcelona, assume a presidência da Associação Coró de Pau com o comprometimento de administrar, junto com o mestre Alemão, todos os processos que envolvem a entidade e, assim, corroborar de forma efetiva com a cultura.

O pesquisador Roberto da Matta (1981) compreende que “a cultura não é um código que se escolhe simplesmente. É algo que está dentro e fora de cada um de nós”. Fazendo-se uma analogia às regras de um jogo de futebol e também com a ação de cada jogador, juiz, bandeirinha e torcida, as regras impostas pela partida de futebol formam a cultura do futebol, que é assimilada pelo povo através de gerações e que sofre algum tipo de adaptação para se adequar à presente realidade vivida. Se a cultura é algo que está dentro e ao mesmo tempo fora de cada individuo, a ação cultural deverá reunir condições necessárias para que nós possamos exteriorizar nossos conhecimentos, nossas experiências trazidas do meio em que vivemos, através de ações lúdicas, artísticas. (MATTA, 1981)

VOCÊ TEM CULTURA? Disponível em: <https://docs.google.com/file/d/0B1Qb0U1ox20oRE o1VjN1 QUExRTA/edit>. Acesso em: 20 jul. 2015.

Com fundamento no que Roberto da Matta traz como conceituação de cultura e ação cultural, é possível notar que os indivíduos participantes das oficinas, ensaios e apresentações culturais estão engajados com a experiência cultural ofertada pela associação. Dentre isso, também é notório observar que na associação a participação em qualquer uma das atividades é livre. Com exceção do Mestre Alemão e sua esposa Geovanna, que normalmente estão presentes e à frente das atividades, não há um grupo preestabelecido; ele se forma de acordo com os membros que estão disponíveis para aquela data e horário. O aceite do convite é realizado no final de cada ensaio e enviado também pela Geovanna, usando mídias sociais do grupo e o boca a boca entre os membros. A periodicidade dos ensaios é de acordo com a necessidade de cada evento, porém, é mantido o costume de ser quinzenalmente e aos sábados; já as apresentações oficiais são realizadas de acordo com os eventos em que eles são convidados e contratados.

O público-alvo é a comunidade em geral, no entanto, os frequentadores das atividades do Coró podem ser distinguidos em sua maioria em dois tipos: primeiro, jovens universitários, o que é justificado pela proximidade do ponto de cultura com a comunidade universitária; segundo, a comunidade em geral, com a especificidade de serem pessoas mais envolvidas e conhecedoras das representações culturais. Em ambas as classificações, os indivíduos, por terem uma forte identificação com a manifestação proposta, acabam sendo atuantes nas apresentações e ensaios, ou seja, saem da posição de assistentes para atuarem diretamente nas tocadas dos instrumentos.

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Em 2012, a associação foi contemplada no Edital Nº06/2011 do concurso de seleção para implementação dos Pontos de Cultura “A Arte de Viver Goiânia”.

Pontos de Cultura são bases sociais capilarizadas e com poder de penetração nas comunidades e territórios, em especial nos segmentos sociais mais vulneráveis. Trata-se de uma política cultural que, ao ganhar escala e articulação com programas sociais do governo e de outros ministérios, pode partir da Cultura para fazer a disputa simbólica e econômica na base da sociedade. (MINC, 2015)

Significado de capilarizada: S.F. Ação de capilarizar, ou seja, fazer com que algo seja melhor distribuído. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/significado/capilariza%C3%A7% C3%A3o/ 16989/>  Acesso em: 7 ago. 2015.

MINC. Disponível em: <http://cultura.gov.br/pontos-de-cultura1>. Acesso em: 20 mai. 2015.

Sendo assim, a associação passou a ter oportunidade de oferecer estrutura mais digna, com materiais permanentes, proporcionando melhores condições para o desenvolvimento das produções artísticas, passando a ser chamado como “Ponto de Cultura Coró de Pau Arte, Ofício e Produção”.

2.2.1 Os Instrumentos Musicais

A origem dos primeiros instrumentos musicais está intrinsecamente articulada à evolução e à história das civilizações, assim como à evolução da oralidade humana. Porém, existem inúmeras controvérsias sobre a exatidão desse fato nos registros históricos. O mais antigo exemplar de instrumento musical sobrevivente, por exemplo, é uma flauta com osso de cisne descoberta em Geissenklosterle, na Alemanha, que data de cerca de 36 mil anos atrás (BERKLEY et. al., 2009 p. 128).

O processo de evolução dos instrumentos aconteceu de forma gradativa por vários séculos, no entanto, foi em meados do XIX, com a ampliação da música orquestral, que os instrumentos tornaram-se próximos às formas atuais. Dourado (2004, p. 167) define instrumento como um:

[...] artefato, dispositivo, aparelho ou qualquer objeto construído, adaptado pelo homem ou encontrado na natureza, que é utilizado para produzir sons determinados ou indeterminados, os quais organizados ou não, são passíveis de serem identificados como música sob o ponto de vista de alguma concepção artística ou social para fins espirituais, comunitários, políticos, bélicos, de comunicação ou entretenimento (DOURADO, 2004, p. 167).

Existem vários modos de classificar os instrumentos, sendo que, normalmente, isso ocorre de acordo com o modo de produção do som, de execução, do material empregado, dos mecanismos e do formato. Porém, o critério proposto inicialmente pelo filósofo e matemático francês Marin Mersenne, em seu ensaio “Harmonia Universal” (1636/37), levava em consideração somente a produção do som. De acordo com essa classificação, os instrumentos se agrupam, grosso modo, em três grandes categorias: cordas, sopros e percussão (RODRIGUES, 2011 ).

Movimento.Com. Disponível em: <http://www.movimento.com/2011/09/a-historia-dos-instrumentos/>. Acesso em: 17 mai. 2015.

Entretanto, atualmente a classificação mais utilizada é o Sistema Hornbostel e Sachs, que possui características mais universais. De acordo com Filho (2009, p.18), a vibração causada pelo material usado no corpo vibratório, a partir do qual o som é produzido, é o elemento priorizado que justifica tal classificação, gerando as seguintes famílias de classificação para os instrumentos musicais: a) idiofones : quando o som é produzido pelo próprio corpo do objeto; b) membranofones: quando o som é produzido por uma membrana; c) cordofones: quando o som é produzido pela vibração de uma corda, metálica, de fibra vegetal ou de origem animal; d) aerofones: quando o som é produzido por uma corrente de ar.

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Dicionário Cravo Albim da música popular brasileira. Disponível em: <http://www.dicionariompb.com.br /instrumento/dados-artisticos>. Acesso em: 23 jul. 2015.

Os instrumentos confeccionados na oficina de confecção artesanal da Associação Coró de Pau são classificados como: idiofones e membranofones. Tendo em vista que ambas classificações representam a maioria dos instrumentos de percussão. Outra justificativa é que as matérias-primas utilizadas na confecção destes instrumentos explicam tal classificação. O Mestre Alemão e seus oficineiros utilizam em suas criações: a madeira conseguida junto à Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia (AMMA) ou troncos de árvores disponíveis na natureza após queda natural; pele de animais comprada em pequenos frigoríficos da região ou por doação; sementes e frutos secos de plantas e cordas.

2.3 METODOLOGIA

A metodologia é a lógica dos procedimentos científicos em sua gênese e em seu desenvolvimento, não se reduz, portanto, a uma metrologia ou tecnologia da medida dos fatos científicos. Para ser fiel a sua promessa, a metodologia deve abordar as ciências sob o ângulo do produto delas - como resultado em forma de conhecimento científico - mas também como processo - como gênese desse próprio conhecimento (BRUYNE et. al., 1977, p. 29).

Este trabalho possui como sujeito o grupo Coró de Pau e o campo de estudo e intervenção selecionado é o Ponto de Cultura Coró de Pau Arte, Ofício e Produção. Consideramos apropriado tomar como empréstimo os procedimentos metodológicos de uma pesquisa exploratória, visando a ação de intervenção, tendo em vista que a pesquisa pode ser caracterizada quanto aos fins e aos meios. De acordo com Gil (2007, p. 40), a grande maioria das pesquisas exploratórias envolve: a) levantamento bibliográfico; b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e c) análise de exemplos que estimulem a compreensão. Todavia, diante dos propósitos desta intervenção, classificamos os procedimentos para o desenvolvimento da intervenção como pesquisa-ação, tendo em vista a similitude com esta metodologia. Fonseca define pesquisa-ação como:

Participação planejada do pesquisador na situação problemática a ser investigada. O processo de pesquisa recorre a uma metodologia sistemática, no sentido de transformar as realidades observadas, a partir da sua compreensão, conhecimento e compromisso para a ação dos elementos envolvidos na pesquisa. O objeto da pesquisa-ação é uma situação social situada em conjunto e não um conjunto de variáveis isoladas que se poderiam analisar independentemente do resto. Os dados recolhidos no decurso do trabalho não têm valor significativo em si, interessando enquanto elementos de um processo de mudança social. O investigador abandona o papel de observador em proveito de uma atitude participativa e de uma relação sujeito a sujeito com os outros parceiros. O pesquisador quando participa na ação traz consigo uma série de conhecimentos que serão o substrato para a realização da sua análise reflexiva sobre a realidade e os elementos que a integram (FONSECA , 2002, p. 34-35).

Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/e p/v31n3/a09v31n3.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2015

As ações desenvolvidas neste trabalho possuem um perfil qualitativo, considerando que investigações quantitativa e qualitativa são de natureza diferente (MINAYO, 1993 ). A primeira atua em níveis da realidade, onde os dados se apresentam aos sentidos: “níveis ecológicos e morfológicos” (GURVITCH ,1955); a segunda trabalha com valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões (MINAYO, 1993).

Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X1993000300002&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 ago. 2015

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2.4 PROCEDIMENTOS

A concepção da ideia inicial partiu das conversas com Aline Ribeiro (colega de curso e integrante do grupo Coró de Pau), realizadas na sede do ponto de cultura durante ensaio do grupo Coró de Pau no mês de março. Ambas concluímos que poderíamos produzir uma intervenção utilizando o mesmo objeto, com olhar semelhante de profissionais da informação/bibliotecária que compreendem as ações culturais como as realizadas na associação enquanto produção de importante impacto na sociedade para a qual são direcionadas. Para Coelho (2004), a ação cultural pode ocorrer de dois modos distintos:

Ação cultural de serviços, entendida mais como uma animação cultural, onde diferentes produtos ou serviços são propostos para um público ou clientela, lançando mão de atividades de divulgação, cujo objetivo é vender/aproximar produto e cliente e ação cultural de criação, na qual a proposta é “fazer a ponte entre as pessoas e a obra de cultura ou arte para que, dessa obra, possam as pessoas retirar aquilo que lhes permitirá participar do universo cultural como um todo [...]” (COELHO, 2004, p. 33).

Portanto, com olhares semelhantes, mas finalidades distintas, esta intervenção parte das seguintes situações: a primeira com o olhar externo da Associação Coró de Pau, ou seja, de quem somente frequenta os ensaios e apresentações; a segunda sob a perspectiva da integrante do grupo. Definida essa particularidade, o passo seguinte foi entrar em contato com a Geovanna e o mestre Alemão e informá-los da nossa intenção. Ambos receberam com entusiasmo a proposta e no início do mês de abril foi agendada a primeira visita para assinatura dos termos de compromisso e para conhecermos a oficina de instrumentos guiada pelo mestre Alemão que, ao apresentar o seu trabalho e o local, falava com empolgação sobre os instrumentos e tempo gasto na oficina. Em uma segunda visita conseguimos fazer o levantamento de todos os instrumentos confeccionados, quanto ao nome e período de fabricação, matéria-prima utilizada e os meios para se ter acesso a ela.

Após o conhecimento sobre os instrumentos fabricados artesanalmente na oficina, foi necessário organizar as informações e delimitar os procedimentos para a intervenção, escolhendo as fontes mais adequadas e que melhor abarcassem a descrição dos mesmos de acordo com os dados obtidos na segunda visita técnica. Depois de todo esse processo foi o momento que planejamos e elaboramos o banner proposto nos objetivos específicos do projeto. Nesta fase contamos ativamente com o auxílio da Geovanna, que nos orientou em diversos momentos com material fotográfico do grupo e esclarecendo sobre o fato das descrições dos instrumentos estarem de acordo com o proposto e com a associação. Depois de editado e com o término do produto final em meados de julho, foi necessário imprimir o banner (ver Apêndice A), cuja unidade impressa custou o valor de R$ 50,00 (cinquenta reais).

2.5 RESULTADOS

Finalizada a etapa de criação, foi necessário entrar em contato com a Geovanna e marcar a apresentação do banner e oficina, outra atividade prevista nos nossos objetivos específicos. A data sugerida foi dia 27 de julho. A oficina ocorreu na data marcada antes do ensaio do grupo, com vários integrantes.Juntamente com a Geovanna e o Mestre Alemão, os componentes do grupo receberam com empolgação a apresentação.

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Ao finalizar a oficina e apresentação do banner, Mestre Alemão e sua esposa Geovanna tomaram a palavra para elogiar o trabalho e reafirmaram para todos os presentes a importância da associação para a cultura goiana, bem como a participação de todos os integrantes do grupo não somente nos ensaios e apresentações, mas também em atividades que promovessem a associação, a fim de replicar cada vez mais o importante trabalho cultural desenvolvido no local. E ressaltou que iniciativas como a nossa que, visam promover além da própria associação e seus produtos, possuía sim um cunho imensurável de responsabilidade com a arte, com a cultura e com os cidadãos em geral e que tal atitude iria atuar na formação do cidadão, que consciente da sua cultura se tornaria individuo com maior capacidade de identificar-se e posicionar-se diante a sociedade.

É neste sentido que essa intervenção objetivou, sobretudo, contribuir com a transmissão da cultura através de um produto que busca aproximar e facilitar o acesso à informação contida no banner. Informação esta que carrega o sobrepeso da responsabilidade de representar a cultura e uma associação que está empenhada com seriedade há mais de dez anos.

3. CONCLUSÃO

Ao iniciarmos este trabalho estabelecemos como prioridade elucidar as questões referentes à inserção do Coró de Pau na lógica do registro das oficinas de criação de instrumentos musicais da cultura afro-brasileira, para que essas atividades sejam divulgadas com o intuito de fortalecer a identidade cultural e o exercício dos direitos culturais e da cidadania. A partir desta “problematização”, estabelecemos o seguinte objetivo geral: investigar, inventariar e apresentar os instrumentos musicais afros-brasileiros confeccionados artesanalmente pelo  Ponto de Cultura Coró de Pau Arte, Ofício e Produção através de um produto que atue como intermediador entre esta manifestação cultural e a comunidade goiana.

Por meio dos procedimentos da pesquisa-ação, adaptados a uma ação intervencionista, desenvolvemos a organização e a preparação do produto final, o banner, com o objetivo de aliar toda a parte teórica desse estudo com uma imersão na associação. Entretanto, tomou-se o cuidado, principalmente, de nos atermos não somente ao estudo dos instrumentos quanto a sua descrição. O que nos proporcionou maior enriquecimento foi o contato aprofundado com a oficina de produção de instrumentos e com todo o universo da cultura e suas possibilidades. Ficou ainda mais perceptível a importância de registrá-las, não somente para a gestão documental e administrativa da associação, mas como ferramenta que garantirá a memória da associação e de toda uma cultura, ocasionando claramente uma melhor concepção que, certamente, refletiu no resultado final da intervenção. Como sugere Franco (2005), na pesquisa-ação: “permanece a ideia de transformação da realidade, no entanto, de forma pontual em algum aspecto da realidade julgado relevante. O foco desloca-se para o produto da mudança e não mais para o processo [...]”

Pedagogia da pesquisa-ação. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a11v31n3.pdf>. Acesso em: 9 ago. 2015.

Durante todo o processo de realização e, posteriormente, com a conclusão através da realização da oficina, foi notório que na Associação Coró de Pau há a ausência de atividades e ações que culminem na promoção do trabalho realizado pelo Mestre Alemão, sua esposa Geovanna e todos Corózianos , que são cúmplices no objetivo de não só levar alegria e dança com seus batuques à comunidade goiana, mas, acima de tudo, são parceiros conscientes da importância do movimento em prol da afirmação da cultura que herdamos dos nossos ascendentes. E é por isso que atividades como esta, independentemente do tamanho e do resultado, justifica-se, simplesmente pelo poder de alcance e de enriquecimento do conhecimento, que deixa como legado ao outro que recebe informação em forma de cultura e cultura em forma de arte.

Nomenclatura dada pela Geovanna a todos integrantes/participantes do Grupo Coró de Pau.

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Para concluir, deixo como sugestão aos gestores da associação a criação de políticas internas que permitam o registro da historicidade dos trabalhos realizados dentro da associação e fora, em suas apresentações, a fim de resguardar não somente a cultura que eles trabalham, com o intuito de fortificá-la, mas também para resguardar o registro de uma nova cultura que está sendo formada junto com os cidadãos que possuem acesso a estas ações culturais. Confirma Sahlins (1991 ), “todas as culturas estão na história, o que diverge entre elas é o modo como lidam com a história com que se defrontam e se transformam”.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392001000200006>. Acesso em: 12 ago. 2015.

REFERÊNCIAS

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