PATRIMÔNIOS
POSSÍVEIS

Arte, Rede e Narrativas da
Memória em Contexto
Iberoamericano

Lilian Amaral

Cleomar Rocha

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Breves notas dos organizadores

Profa. Dra. Lilian Amaral (Concepção / Coordenação Geral Editorial)
Prof. Dr. Cleomar Rocha (Coordenação Editorial) | Media Lab UFG

A presente publicação é fruto de uma série de entrecruzamentos entre projetos de pesquisa nacionais e internacionais no âmbito das atuais problemáticas no campo da arte e da memória, suas implicações tecnológicas e sociais. As Jornadas Internacionais Patrimônios Possíveis: Arte, Rede e Narrativas da Memória em contexto ibero-americano contemporâneo reuniram, em Agosto de 2016, uma extensa gama de experiências em torno das práticas da memória, em suas interlocuções com os territórios nos quais se desenvolvem. Realizadas no Media Lab, na Universidade Federal de Goiás, as Jornadas apresentaram projetos desenvolvidos no Brasil, Uruguai, Chile, Argentina, Colômbia, Portugal e Espanha bem como o lançamento de publicações junto ao Museu Antropológico da UFG, estabelecendo o fortalecimento entre as Redes de Educadores de Museus no Brasil e contexto ibero-americano, por meio da colaboração junto à Rede de Educadores em Museus de Goiás, e da Rede Internacional de Educação Patrimonial, por intermédio do Observatório de Educação Patrimonial da Espanha .

Desde 2012, com a realização do I Congreso Internacional de Educación Patrimonial em Madrid/Espanha, vêm sendo estabelecidos processos de colaboração com o Observatório de Educação Patrimonial, vinculado ao Instituto de Patrimônio Cultural do Ministério de Cultura Espanhol, tendo sido responsável pela implantação do Plano Nacional de Educação Patrimonial naquele país. No mesmo ano, consecutivamente, realizam-se as IV Jornadas Internacionales de Investigación en Educación Artística em Valência, onde reúnem-se especialistas e responsáveis em arte/educação e educação em museus para abordar as temáticas que afetam ambos coletivos. Com o tema Patrimônios Migrantes foram colocadas em perspectiva questões que apontaram a deslocalização geográfica dos patrimônios como um valor a ser considerado, em que as migrações de criadores, artistas e especialistas, os intercâmbios entre docentes e discentes, assim como as transições de saberes, constituíram as engrenagens de grande vitalidade, tendo promovido a mestiçagem de ideias e fomentado a integração e aprofundamento de pesquisas no campo da educação museal, propostos no I Congreso de Educación Patrimonial, realizado anteriormente e em conexão, pelo Observatório de Educação Patrimonial da Espanha - OEPE.

No ano seguinte, iniciando uma prospecção em contexto Latino Americano e a convite do Observatório de Educação Patrimonial da Espanha, estabelecem-se cooperações de pesquisas transdisciplinares que apontam a dimensão relacional que atravessa a concepção de Patrimônio, Memória e Identidade em contexto Latino Americano, iniciando-se uma perspectiva de internacionalização das pesquisas propostas em torno do Observatório de Educação Patrimonial da Espanha. Neste contexto emergem as problemáticas que “sulearam” as possíveis [re]definições “geoglocalizadas” em torno do que vimos prospectando como “o patrimoniável”, respondendo, assim, à especificidades, polifonias e demandas culturais dos distintos contextos que viriam a integrar a futura rede inter e transcultural.

Em 2014 três importantes encontros simultâneos e consecutivos promoveram, no Brasil, Espanha e França, aprofundamento de abordagens dialógicas acerca das práticas artísticas e o patrimônio cultural em contexto ibero-americano, destacando-se, como desdobramentos, a co-pesquisa e a internacionalização do Observatório de Educação Patrimonial em direção à América Latina. A partir da percepção da necessidade de estabelecer uma plataforma de intercâmbio investigativo sistemático e contínuo, definiram-se as bases para a criação da Rede Internacional de Educação Patrimonial. Neste contexto, esboçavam-se os nós/nodos que definiriam esta Rede de Pesquisa Internacional, ibero-americana, com foco na relação entre pessoas, territórios e bens culturais, entendendo os trânsitos, atravessamentos e transformações geopoéticas e geopolíticas que caracterizam a contemporaneidade, definindo a plasticidade e relatividade de seus modos de atuar e respectivos contornos.

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Partindo de uma concepção relacional, o[s] Observatório[s], especialmente, em contexto latino americano, como agentes de transformação por meio da prática, desenvolvimento e implicação em processos de longa duração, operam com uma definição de patrimônio em constante formulação, absolutamente implicado com as transformações que emergem de tais territórios em processo, com o protagonismo dos sujeitos que definem a noção do que seja, do que pode vir a ser e do que não é patrimônio. Em outras palavras, trata-se de um observatório do território praticado, cuja pesquisa opera em dimensão performativa, processual, transdisciplinar e co-elabor-ativa. Ao deslocar-se entre territórios, [re]desenha novas rotas e conexões, definindo o sentido mesmo do nômade, aquilo que Nicolas Bourriaud nomeia como forma-trajeto, ou seja, o resultado projetual das aparições, acontecimentos e performatividades das inter-relações entre projetos, cocriações artísticas que constituem redes, compondo um corpo mutante, orgânico, multiforme. Por capilaridade, vem somar-se à outras redes e observatórios ibero-americanos, reconfigurando-se processual e continuamente.

A realização das Jornadas Abertas Patrimônios Possíveis: arte, rede e narrativas da memória em contexto ibero americano contemporâneo apresenta um panorama polifônico, caracterizado pela multiplicidade, transitoriedade, incerteza, elementos que definem a agudeza do tempo presente. Conforme nos informa o filósofo italiano Franco Berardi [1949-] em seu “Manifest of Post-Futurism” [Manifesto Pós-Futurista]: “Exigimos que a arte se torne uma força transformadora da vida. Procuramos abolir a separação entre poesia e comunicação de massas, retomar o poder da mídia dos comerciantes e devolvê-lo aos poetas e sábios”. Neste contexto cabe refletir sobre a dimensão contemporânea do patrimônio, do patrimoniável, do que está em processo de legitimação pelo afeto, pela sensibilidade, pelo pertencimento e herança, aquilo que nos aproxima, pelo pró-comum.

A 32 Bienal de São Paulo nos oferece algumas considerações que trazemos a este contexto, como modo de instigar à reflexão compartilhada

A Arte descobre, ocupa, inventa e define lugares, nas cidades ou no campo, no centro ou na periferia, em locais históricos, recém-desenvolvidos, em contínua transformação, ou precários. Historicamente, períodos de caos ou instabilidade social têm mostrado que isso é verdade. A criatividade artística é impulsionada pela luta e pelo amor. Ela pode nascer da Resistência, mas cresce verdadeiramente na paz. Nesse sentido, a arte jamais é simbólica, mas sempre concreta.

Agradecimentos

Este projeto editorial é desdobramento de pesquisas desenvolvidas e lideradas pela Profa. Dra. Lilian Amaral em estágios pós-doutorais, entre os quais o realizado com aportes da Capes - Programa Nacional de Pós-Doutorado / PNPD junto ao Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual na FAV, Universidade Federal de Goiás, 2014, tendo desdobrado-se no desenvolvimento da publicação eletrônica “Cartografias Artísticas e Território Poéticos”, editado pela Fundação Memorial da América Latina e UFG, por meio do Media Lab BR. A atual pesquisa em processo vem a configurar a plataforma Observatório Experimental do Território: arte, tecnologia e patrimônio cultural, projeto de Pesquisa em torno da Rede Internacional de Educação Patrimonial em contexto ibero-americano, com relevantes investimentos em pesquisa entre Brasil e Colômbia, sobretudo, com a criação da Rede do Patrimoniável / Red de lo Patrimoniable , em co-pesquisa processual com a Universidade Antonio Nariño, na Colômbia, assim como com Uruguai, Argentina, Chile e Espanha, com o Observatório de Arte Digital y Electrónica .

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Tais projetos resultam de um consorcio de Universidades ibero-americanas, tendo o Ministério de Cultura da Espanha, por meio do Instituto de Patrimônio Cultural em cooperação com uma extensa rede de Universidades Espanholas como propositores, e no Brasil, o Media Lab / Universidade Federal de Goiás ancora a presente rede de redes, com participação do Ministério da Cultura, IPHAN e IBRAM. Como contexto para promover o intercâmbio entre pesquisadores e fomentar novos desdobramentos investigativos, realizamos as Jornadas Abertas Patrimônios Possíveis, tendo o apoio da CONFAEB, presidida pela Profa. Dra. Leda Guimarães, professora do PPG Arte e Cultura Visual da FAV/UFG, em diálogo com o InSEA, International Society for Education through the Arts e das Universidades de Valladolid e Universidad de Zaragoza, bem como do Observatório de Educação Patrimonial e da Rede Internacional de Educação Patrimonial da Espanha.

Desta forma, o Media Lab, concebido e dirigido pelo Pesquisador docente Prof. Dr. Cleomar Rocha e em co-pesquisa com esta pesquisadora, reafirma seu lugar de convergência e irradiação, desenvolvendo articulações, fomentando a pesquisa transdisciplinar em diálogo com as práticas artísticas e culturais em distintos contextos internacionais, configurando uma rede em processo da qual integram o Observatório de Lo Patrimoniable, em Bogotá / Colômbia desenvolvido junto à Universidade Antonio Nariño, os Observatórios R.U.A. Fortaleza e Observatório do Patrimoniável em Quixadá, Ceará, desenvolvido junto à Secretaria de Cultura e Coordenação do Patrimônio Cultural, o Observatório Experimental do Patrimoniável, em articulação com o Instituto Tear e Pontão de Cultura Tear, Rio de Janeiro, trazendo para o campo de estudo-intervenção os Museus do Território – Museu da Maré, Museu do Samba, Ecomuseu de Sepetiba e Instituto Pretos Novos, por meio do projeto Rotas da Memória. EntrePontos Cariocas, complementados pelo Observatório Experimental do Território SP Bom Retiro/Luz, desenvolvido junto ao Museu de Saúde Pública Emílio Ribas e ao Curso de Pós-Graduação em Arte e Terapias Expressivas do Instituto de Artes da UNESP, integrando o Observatório R.U.A./M.A.U Realidade Urbana Aumentada/Mapeamento Artístico Digital, FAAC/UNESP Bauru SP e Observatório R.U.A. Porto Alegre, resultante das pesquisas desenvolvidas junto ao Ateliê Livre da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre e seu desdobramento junto ao GPIT, Grupo de Pesquisa Identidade e Território, da Faculdade de Arquitetura e o Núcleo de Arte Impressa, Grupo de Pesquisa do Pós-Graduação em Artes Visuais, ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

A todas as instituições acima mencionadas e àquelas que aceitaram o convite para participar deste colóquio transversal, manifestamos nossos agradecimentos, entendendo que esta compilação de projetos e percepções de mundo apontadas por meio de narrativas da memória, notadamente através de linguagens audiovisuais e multimediáticas, configuram uma cartografia processual e geopoética da diversidade expressa pelo patrimônio cultural em transformação, em contexto ibero-americano na contemporaneidade global.

Observatório de Educação Patrimonial da España – http://www.oepe.es.

Bourriaud, N. Pós-produção. Como a arte reprogama o mundo contemporâneo. São Pulo: Martins Fontes, 2009.

Franco Berardi. After the Future. Edimburgo, Oskland, Baltimore: AK Press, 2001, p. 166

Jochen Volz. Incerteza Viva. In: Catálogo da 32ª. Bienal de São Paulo. Processos Artísticos e Pedagógicos. 32ª. Bienal Internacional de São Paulo, 2016.

http://www.reddelopatrimoniable.com. Universidad Antonio Nariño. Lider de pesquisa Dra. Liliana Fracasso.

Observatório de Arte Digital y Electrónica ibero-americano. UDELAR. Liderado por Dr. Daniel Argente.