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Oralidade, a História entre os Lábios da Diáspora Afro-Brasileira no Cerrado .

A memória cria a corrente da tradição.
Que passa um acontecimento de geração em geração.
Walter Benjamin

Este trabalho consiste em um relatório técnico-científico dos resultados do Projeto de Intervenção realizado junto a um Terreiro de Candomblé, de dez que foram mapeados, localizados no município de Águas Lindas de Goiás, região do entorno do Distrito Federal. Relata a necessidade da preservação da oralidade nos Terreiros que, em diáspora, têm deixado o Distrito Federal rumo às cidades do entorno. Parte-se do princípio que a falta de locais determinados para o culto urbano dos Orixás fez com que vários Terreiros migrassem para a zona rural, e preocupa a possibilidade de que o conhecimento quase milenar do Povo de Santo, que se estabeleceu no cerrado do Planalto Central, venha a se perder no meio dessas mudanças. Este Projeto de Intervenção Oralidade, a História entre os lábios da diáspora Afro-brasileira no Cerrado nasceu nos encontros presenciais e no ambiente virtual da Especialização Interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania (EIPDCC), ofertada pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Direitos Humanos da Universidade Federal de Goiás (UFG), através da Universidade Aberta do Brasil (UAB/CAPES).

Palavras-chave: Distrito Federal, Candomblé, Oralidade, Patrimônio Imaterial.

Aluna: Marcus Alberto Moura Maciel

Polo: Águas Lindas

Orientadora Acadêmica: Mana Marques Rosa

Coordenadora de orientação: Simone Rosa da Silva

Anexos

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Este trabalho, aprovado pela banca de avaliação na Especialização Interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania, foi selecionado e apresentado pelo autor Marcus Maciel na 13ª Conferência Internacional sobre Representações Sociais, realizada no período de 14 a 17/09/2016 no Palais Du Pharo, em Marseille, França, e teve seu resumo publicado nos anais da referida conferência.

INTRODUÇÃO

"Eu sei que não vou lembrar de todas as histórias que ela contou, mas de uma coisa lembro, nunca devemos esquecer de onde viemos, pois é no passado que encontraremos a força para criar um futuro". Com essa frase temos o 'grand finale' do curta metragem: O Tempo dos Orixás (NASCIMENTO, 2014).

Orixás, ancestrais divinizados, respectivamente cultuados por Fons, Iorubás e Bantos.

Esta fala ilustra toda a preocupação e inquietação quando da proposição do Projeto de Intervenção Oralidade, a História entre os Lábios da Diáspora Afro-brasileira no Cerrado, no município de Águas Lindas de Goiás. Cidade com apenas 20 anos de emancipação política, localizada no entorno de Brasília, que faz parte da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, também conhecida como RIDE .

RIDE, Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, foi criada pela Lei Complementar n° 94, de 19 de fevereiro e regulamentada pelo Decreto n° 2.710, de 04 de agosto de 1998, alterada pelo Decreto n° 3.445, de 04 de maio de 2000; sendo constituída pelo Distrito Federal, pelos municípios de Abadiânia, Água Fria de Goiás, Águas Lindas de Goiás, Alexânia, Cabeceiras, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Corumbá de Goiás, Cristalina, Formosa, Luziânia, Mimoso de Goiás, Novo Gama, Padre Bernardo, Pirenópolis, Planaltina de Goiás, Santo Antônio do Descoberto, Valparaíso de Goiás e Vila Boa, todos pertencentes a Goiás, e Buritis, Cabeceira Grande e Unaí, pertencentes a Minas Gerais.

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O Tombamento de Terreiros  do culto afro-brasileiro é algo recente, e segundo o antropólogo Gilberto Velho, a primeira vez deu-se com o tombamento da "Casa Branca", em 1984. Ocasião que se registrou no Livro de Tombo Histórico, Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico:

Terreiro, segundo Câmara Cascudo, diz-se ao local ou templo onde se pratica a religiosidade afro-brasileira com o culto dos Voduns, Orixás e Inquices, pode ser chamado ainda de barracão, roça, ou Casa de Santo. Na Bahia é sinônimo de candomblé e no Rio de Janeiro de macumba. Usa-se: Terreiro de fulano...Terreiro de cicrana. N. do A.:  no intuito de padronizar, usaremos em todo o texto Terreiro para definir o templo de culto aos Orixás.

[...] uma 'cultura' que não se restringisse à herança da civilização de origem européia, mas, que fosse compreendida como um fenômeno abrangente que inclui todas as manifestações materiais e imateriais que expressam as crenças, valores e visões de mundos existentes em uma sociedade (VELHO, 2006 p.11).

O tombamento da "Casa Branca", em Salvador, em 1984, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) fez com que o Estado, mesmo que tardiamente, incorporasse nos pilares do atual Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC  o que foi apregoado por Mário de Andrade (1936) em sua proposta para a criação do SPHAN , entregue ao então Ministro da Educação, Gustavo Capanema: "o patrimônio cultural da nação compreendia muitos outros bens além de monumentos e obras de arte" (ANDRADE, 1936, p. 1).

INRC é um instrumento de identificação de bens culturais tanto imateriais quanto materiais. A indicação de bens para Registro e/ ou para Tombamento.

SPHAN, Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, criado pelo Decreto-lei n° 25, de 30 de novembro de 1937.

Imagem 1 - Vista do Terreiro da Casa Branca. Fonte: Sociedade Beneficente e Recreativa São Jorge do Engenho Velho
Imagem 2 - Coroa do Poste Central do Salão da Casa Branca. Fonte: Sociedade Beneficente e Recreativa São Jorge do Engenho Velho

Embora seja difícil obter-se a unanimidade, quando falamos de estudos sobre o patrimônio cultural nacional, tanto os produzidos no Estado, dentro do próprio IPHAN, como os oriundos do meio acadêmico, alcançaram um denominador comum com relação à trajetória da política oficial de preservação do patrimônio ao dividi-la em duas fases: a primeira seria a "fase heroica", que se iniciou em 1937, com a própria criação do Serviço de Patrimônio Artístico Nacional (SPHAN), mais tarde IPHAN, e terminou em 1967, quando se aposenta Rodrigo de Mello Franco e Andrade; já a segunda seria a "fase moderna", que se inicia com a nomeação de Aloísio Magalhães, em 1979.

Nomeado, Aloísio Magalhães realiza uma grande reforma no Instituto, fundindo o IPHAN ao Programa Integrado de Reconstrução das Cidades Históricas (PCH) e ao Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC). Em seguida, desdobrando em duas instituições, a Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e a Fundação Pró-Memória, que passam a operar sob a sigla de SPHAN/Pró-Memória. Segundo Gonçalves (2002), neste período, "a política de patrimônio cultural no Brasil sofre profundas mudanças". Ainda segundo este autor, "considera-se a entrada de Aloísio no IPHAN um "marco" decisivo para a trajetória das políticas públicas de patrimônio no Brasil" (GONÇALVES, 2002, p.71).

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Aloísio Magalhães resgata em sua reforma administrativa algumas das propostas e conceitos enunciados por Mário de Andrade meio século antes, provocando uma grande revolução nos valores até então arraigados no IPHAN, que segundo Velho (2006), possuía "uma 'cultura' que se restringia à herança da civilização de origem europeia" (VELHO, 2006, p. 11). Tendo, assim, Aloísio Magalhães uma visão mais arejada de "bem cultural" juntamente com a ideia de que o melhor guardião do patrimônio é a comunidade, que com ele mais de perto se relaciona, quebra paradigmas, trazendo novos ventos para a memória nacional e para o patrimônio material e imaterial.

Conforme Mônica Millet neta de Maria Escolástica da Conceição Nazareth, a "Mãe Menininha do Gantois", em seu requerimento no processo pedindo o Tombamento do Templo Ilê Axé Omy Iyá Massê ou Terreiro do Gantois (MILLET, 2000):

[...] o conhecimento nas Casas de Santo, Terreiros ou Roças é transmitido pela oralidade, onde o chão de terra batida é o livro, e os signos nele inscritos são as coisas e pessoas que nele se movimentam e a sobrevivência desses deslumbre musical, lúdico, cênico, poético, plástico e gastronômico carece de um santuário concreto (IPHAN, 2000, p. 82).

Imagem 3 - Marco do Tombamento pelo IPHAN do Terreiro do Gantois. Fonte: Acervo Próprio
Imagem 4 - O Pesquisador na Porta Central do Terreiro do Gantois. Fonte: Acervo Próprio

Com o êxodo provocado para a região central brasileira, objetivando construir Brasília, vieram dos mais longínquos rincões deste país continental trabalhadoras e trabalhadores os quais trouxeram sua crença e fé através das religiões que professavam. Tal como acontecera no século XVI, na diáspora africana, os candangos  não vieram sós. Vejamos:

Candango, nome com que os africanos designavam os portugueses (quimbundo, kandungu); segundo o Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, 2012. Trabalhador braçal vindo de fora da região, nome com que se designam os trabalhadores comuns que colaboraram na construção de Brasília. N. do A: É errado usá-lo como o gentílico dos nascidos no DF, neste caso, o correto é brasiliense.

[...] os africanos que cruzaram o Mar Oceano não viajaram e sofreram sós. Com os nossos ancestrais vieram as suas divindades, seus modos singulares e diversos de visão de mundo, sua alteridade linguística, artística, étnica, técnica, religiosa, cultural, suas diferentes formas de organização social e de simbolização do real. As culturas negras que matizaram os territórios americanos em sua formação e modus constitutivos evidenciam o cruzamento das tradições e memórias orais africanas com todos os outros códigos e sistemas simbólicos escritos e/ou ágrafos com que se confrontaram (MARTINS, 1997, p. 26).

Verifica-se, desta forma, a repetição da história do Brasil Colônia, na modernidade, com a construção de Brasília. Novamente, o Povo de Santo , recorre à transferência dos conhecimentos sobre os Orixás, através da oralidade dos mais velhos para os mais novos, pois a centena de milhares de brasileiras e brasileiros os quais atenderam ao chamado de JK em suas "matulas" trouxeram os Orixás para o cerrado do Planalto Central.

Povo de Santo, termo utilizado pelos movimentos sociais após a redemocratização na década de 80 para denominar os candomblecistas, umbandistas, juremeiros, catimbozeiros, enfim, todos os adeptos das religiões de matriz afros indígenas.

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A história política-social brasileira possui uma grande intersecção com o religioso, por exemplo:

Mal acabara de descobrir as terras de brasilis , para assinalar a posse da terra para a Coroa Portuguesa, Cabral organizou a primeira missa;

Terra de brasilis, vocábulo utilizado para denominar o Brasil antes da chegada dos europeus: a terra dos índios.

Quando foi para escolher a localização da futura capital brasileira, a Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana  apresentou o sonho profético de Dom Bosco, em 1883, como sendo a antevisão daquilo que JK pretendia realizar;

Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, principal e maior denominação para a Igreja Católica. Tem esse nome porque todos os seus aderentes estão em comunhão com o Papa e Bispo de Roma, e a maior parte das paróquias seguem o Rito Latino ou Romano na prece, embora haja outros ritos.

Para agregar defensores de sua ideia, de cumprir a Constituição trazendo a capital federal para o Planalto Central, JK conta em suas memórias  que imbuiu o Cardeal Dom Carlos Camelo de Vasconcelos Motta arcebispo de São Paulo, que possuía livre trânsito junto às lideranças da Igreja no Norte e Nordeste, para organizar a primeira celebração eucarística de Brasília, realizada em 03 de maio de 1957, com cerca de quinze mil presentes entre "candangos" e caravanas de católicos, vindos de todos os estados, principalmente nortistas e nordestinos;

Por Que Construí Brasília, JK. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1975. p. 75-78.

A proposta de Lúcio Costa, que se fez vencedora no concurso mundial para a escolha do projeto urbanístico da nova capital brasileira, inicia seu Relatório do Plano Piloto de Brasília – PPB com os seguintes dizeres: "nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo, ou seja, o próprio sinal da cruz" (COSTA, 2014, p. 30).

Imagem 5 - A Primeira Missa no Brasil, aquarela de Victor Meirelles/1861. Fonte: Google Imagens.
Imagem 6 - Afresco do Sonho de Dom Bosco/1883, visualizando talvez Brasília. Fonte: Google Imagens
Imagem 7 - A Primeira Missa de Brasília, em 1957. Fonte: Arquivo Público do DF.
Imagem 8 - Congruência do Eixo Rodoviário com o Eixo Monumental. Fonte: Arquivo Público do DF.

O Professor Marlon Oliveira (2012) afirma que esta relação existente entre a história e o sagrado é dialógica:

O sagrado se afirma na história na medida em que o mesmo passa a ter um papel determinante na vida e na organização de um povo. A essência das religiões está inserida na história, de todos os povos em todos os tempos, estes criaram suas divindades, transformando-as em ponto de convergência das diversas relações existentes da vida em sociedade, e esta era imposta nas suas conquistas territoriais e quando vencedores nas guerras (OLIVEIRA, 2012).

É notório que o Brasil é visto como um país das diversidades e pluralidades em vários aspectos sejam estes: culturais, étnicos, religiosos ou de sua biodiversidade. A comunidade internacional tem o nosso país como modelo de uma nação que convive em paz com as mais diversas comunidades religiosas. E Brasília, sendo a capital, não foge a essa regra. Aqui é comum encontrarmos uma Igreja Católica ao lado de um Templo Evangélico ou até mesmo junto a um Terreiro.

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DESENVOLVIMENTO

O Projeto de Intervenção Oralidade, a História entre os lábios da diáspora Afro-brasileira no Cerrado é parte integrante da conclusão da Especialização Interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania, o qual tem como objetivo chamar a atenção para a necessidade da preservação da oralidade como bem imaterial e histórico dos Terreiros que em diáspora migraram para o município de Águas Lindas de Goiás, local onde foi desenvolvido o estudo.

O grande incentivador para este Projeto de Intervenção foi a História de vida de Eliciana Nascimento. Uma mulher, negra, pobre, brasileira, baiana, candomblecista, filha de mãe lavadeira e pai pedreiro, moradora da periferia soteropolitana, estudante da rede pública de ensino, que conquistou uma bolsa para cursar MBA nos Estados Unidos da América e que produziu e dirigiu como trabalho final do curso em Cinema o "curta metragem": O Tempo dos Orixás, que foi selecionado para o "Festival de Cannes", em 2014.

O filme, em seus vinte minutos de duração, retrata quase que em resumo todo o contexto visto nesta especialização, quer seja: o Patrimônio representado pela oralidade, um bem imaterial cabível de preservação, os Direitos Culturais dos Terreiros moldados no pertencimento, na historicidade e na ancestralidade afrodescendente e, por derradeiro, a Cidadania representada pelo respeito ao culto dos Orixás, como garante a Constituição Federal.

Várias foram as ações realizadas durante este Projeto de Intervenção: a revisão bibliográfica que forneceu a localização de alguns Terreiros na cidade de Águas Lindas de Goiás, o trabalho de campo que proporcionou o levantamento e mapeamento de uma dezena de Terreiros de matriz afro-brasileira, num universo de setenta templos existentes, e a intervenção propriamente dita.

Foram realizadas apurada leitura e fichamento dos livros: Inventário dos Terreiros do Distrito Federal e Entorno – 1ª Fase (2009), e do Inventário Nacional de Referências Culturais Terreiros do Distrito Federal e Entorno (2012), publicados pela Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – DF; e Os Orixás dançam no Planalto Central (2005), publicado pela Fundação Palmares. Eles serviram como ponto de partida para a confecção de uma tabela (Figura 12) com a localização dos Terreiros da região.

Imagem 9 - Mapa da RIDE do DF e Entorno. Fonte: Google Maps
Imagem 10 - Mapa de Águas Lindas de Goiás com sua localização no Brasil e no DF. Fonte: Google Maps

As leituras citadas validam nossa hipótese da diáspora ocorrida e que ainda persiste no Distrito Federal e Entorno, vejamos:

A preocupação com os registros, com a legalização das chácaras, com o cumprimento de todas as formalidades que permitam a realização do culto dos orixás, em paz, às vezes fica ameaçada pelo próprio crescimento populacional exigência que esse crescimento faz de ocupar, cada vez mais, espaços. (ABREU, 2006, p. 19).

Em 9 de julho, o jornal Correio Braziliense veiculou uma reportagem em que corrobora essa afirmação de Abreu (2006), demonstrando, assim, sua atualidade. Na entrevista concedida ao jornal, "Pai Lilico de Oxum" diz que para realizar seus cultos, em 1975, teve de deixar o Guará e depois Águas Claras, bairros nobres de Brasília, migrando para área rural, onde comprou uma chácara com oito alqueires próximo a Sobradinho, outra região administrativa.

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Todavia, com a expansão da área urbana e com a doação popular de lotes pelo Governo Roriz, hoje seu Terreiro possui apenas dois alqueires e corre o risco de diminuir mais ainda:

Imagem 11 - Fac-símile da reportagem "Somos invisíveis para os governos". Fonte: Correio Braziliense/ Acervo Próprio

Eu comprei em 1975. Alguns anos depois, o governo decidiu ampliar Sobradinho. Era o governador Joaquim Roriz à época. Eles simplesmente derrubavam a cerca e pegavam um pedaço. Com o tempo, ele (Roriz) se comprometeu que, após a inauguração de Sobradinho 2, me entregaria a escritura. Isso nunca aconteceu. E esse descaso vem se repetindo ao longo dos anos. Somos invisíveis para os governos. E, agora, querem mais um pedaço da área para fazer o Parque da Ema. Se isso acontecer, ficaremos sem a cachoeira, que, para a nossa religião, é sagrada, simboliza (a água) Oxum (BERNARDES, 2015, p. 23).

Tem-se, dessa forma, a inquietude dos Povos de Santo, que para preservarem seus cultos de matriz afro, fogem da cidade e, mesmo assim, encontram problemas por uma intolerância institucional provocada pela invisibilidade e ausência das autoridades constituídas, como viu-se na reportagem.

Nas palavras do então Presidente da Fundação Cultural Palmares, Ubiratan Castro de Araújo, é possível perceber a crítica realidade que os praticantes do Candomblé e demais religiões afrodescendentes vivenciam na Capital Federal. Segundo ele:

Nas pranchetas em que Brasília foi concebida não havia lugar para os Orixás. Afinal, o materialismo, ou funcionalismo e o futurismo não combinavam com encanto e magia. O Brasil Central haveria de ser ocupado pelas maravilhas do progresso, pelo aço e pelo concreto armado. Os geniais arquitetos nem ousavam suspeitar que Ogum e Nanã estavam nestes elementos. Para não sermos injustos, os criadores da cidade cederam a alguma religiosidade, a das púrpuras cardinalícias. Aços e vidros se ergueram em catedral para celebrar as previsões de Dom Bosco. Mas os Orixás não moravam lá (ARAUJO apud ABREU, 2006, p. 13).

O trabalho de campo constatou a existência de mais de setenta Terreiros que funcionam hoje em Águas Lindas de Goiás. Mapeamos apenas dez, presentes nas literaturas da revisão bibliográfica. São eles: Tenda Espírita Sete Mistérios (Zé do Codó), Terreiro de Mina e Terecô Maria Légua Boji Buá da Trindade (Pai Evans), Ilé Axé Oluvá Oxumarê, (Pai Sandro), Tumba Nzo Jimona Nzambi (Tata Ngunz'tala) e Ilé Axé Odé Erilé (Pai Ricardo de Odé) fundados no próprio município. Enquanto os Terreiros Ilê Obá Asé Egbé Àlàfin Òyó, (Pai Júnior/Obalajó), Ilé Axé Arajinã (Pai Ivanildo), Ilé Axé Onan Omy (Mãe Cida/Mona Daré) e Asé Morada (Yá Monna Janaína) são oriundos do Distrito Federal e migraram para a região. Já o Terreiro Ilé Axé Omi Gbato Jegedé (Pai Djair) chama a atenção porque foi fundado em Goiânia e veio em diáspora para Águas Lindas.

Para a confecção do mapa (Figura 12) foi elaborada uma planilha (Figura 13) apresentando os dados dos Terreiros estudados, levantados e mapeados, neste Projeto de Intervenção, que somam dez (10).

Na planilha, inclusive, são marcados aqueles Terreiros que foram visitados na primeira fase do Inventário Nacional de Referências Culturais dos Terreiros do Distrito Federal e Entorno (02), os Terreiros que receberam a visita na segunda fase do citado inventário realizado pelo IPHAN do DF e de Goiás (04), e os quatro Terreiros que não foram visitados pelos técnicos do INRC – DF e Entorno, mas foram alvo deste Projeto de Intervenção.

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Durante a pesquisa, a hipótese de que a diáspora dos Terreiros de candomblé do DF para o Entorno é provocada pela expansão urbana foi comprovada. Corroborando com a afirmação da historiadora Louzada (2011), em sua tese de mestrado na UFG, quando estudou o Candomblé em Goiânia , "o discurso de modernidade segregou sócio-espacialmente sujeitos às manifestações culturais indesejáveis sob o ponto de vista da reiteração do imaginário de cidade e sociedade modernas" (LOUZADA, 2011, p. 229).

LOUZADA, Natália do Carmo. Recriando Áfricas: subalternidade e identidade africana no candomblé de Ketu. 2011. Tese (Mestrado em...) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2011

Nesta linha de pensamento, observamos que os paradigmas arquitetônicos sob a égide da modernidade não contemplam espaços físicos para a realização de cultos de matriz afro, pelo menos nos projetos arquitetônicos de Goiânia e Brasília.

A intenção era realizar o Projeto de Intervenção nos dez Terreiros levantados e mapeados, todavia as suas agendas litúrgicas impediram. Entretanto, houve acolhimento e disponibilidade no Ilê Obá Asé Egbé Àlàfin Òyó, (Pai Júnior/Obalajó), no qual foram desenvolvidas palestras, oficina e exposição.

MAPEAMENTO DE TERREIROS ESTUDADOS EM ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS

Imagem 12 - Mapa desenvolvido pelo autor para auxiliar no mapeamento. Manipulação de imagens e dados: ALVES, Ítalo, 2015. Fonte: Apple Maps

PLANILHA NORTEADORA DO MAPEAMENTO DE TERREIROS ESTUDADOS EM ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS

Imagem 13 - Planilha norteadora do mapeamento de terreiros estudados em Águas Lindas de Goiás Criada pelo autor.

OBJETIVO GERAL

O objetivo geral era promover ensinamentos para a preservação da oralidade como patrimônio imaterial dos Terreiros do DF que saíram em diáspora para o Entorno.

Encontramos na Constituição Federal de 1988, no artigo 216,

Art.216. Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais... (BRASIL, 1988, p.139).

Esta definição para bem imaterial é a égide que ampara a oralidade como modalidade de transmissão de conhecimentos e que é muito usada entre as religiões de matriz afro, principalmente a umbanda e o candomblé.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Já os objetivos específicos centravam-se em mapear e pesquisar os Terreiros que saíram em diáspora para as cidades do Entorno, em especial, Águas Lindas de Goiás; conscientizar sobre a necessidade da preservação da memória destes Terreiros; realizar uma oficina sobre a melhor forma de educar os atores envolvidos na preservação do patrimônio imaterial que os Terreiros possuem e produzem.

METODOLOGIA

O anteprojeto apresentado por Mário de Andrade (1936) para criação do SPHAN contribui para o reconhecimento dos bens imateriais, norteando o presente Projeto de Intervenção. Conforme o autor (1936): "apesar de apresentarem potencial para fixação num suporte físico, permanecem na oralidade, passando de geração para geração" (ANDRADE, 1936, p. 6).

Vê-se, desta forma, que Mário de Andrade, ao afirmar que "folclore não se restringia às lendas, cantos ou danças, mas abarcava também, os saberes populares: medicina, culinária, crendices, magias, etc.", demonstrava sua visão vanguardista. Portanto, é "lamentável que a oralidade não tenha sido acatada como bem imaterial no Decreto-lei n° 25/1937", conforme critica Carreira (2012) no artigo: Patrimônio Cultural Imaterial: do anteprojeto de Mário de Andrade à Constituição de 1988 – aspectos relevantes; contudo, os "bens imateriais foram abarcados pela Constituição Federal de 1988" (CARREIRA, 2012, p. 2).

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Os movimentos sociais, em particular o Movimento Negro, no primeiro mandato do Presidente Lula, obtiveram uma grande vitória com a publicação da Lei nº 10.639/03, que altera sobremaneira a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, incluindo no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira".

A sociedade brasileira, formada a partir das heranças culturais europeias, indígenas e africanas não era contemplada, de maneira equilibrada, com as suas contribuições no sistema educacional brasileiro até a publicação da Lei nº 10.639, em 2003, e suas alterações. Um simples exemplo seria a ausência de ilustrações e textos enaltecendo a etnia africana e indígena; até então, só apareciam de forma depreciativa. O efetivo respeito e cumprimento das prerrogativas dessa lei são essenciais para a construção de uma sociedade mais igualitária.

A "Lei da Afro-Educação", como vem sendo chamada, nomeia a escola como sendo o lugar da construção, não só do conhecimento, mas também da identidade, de valores, de afetos, enfim, onde o ser humano, sem deixar de ser o que é, venha se moldar de acordo com sua sociedade. Esta norma abre a possibilidade de professores trabalharem a Educação Patrimonial da cultura afrodescendente   sem receios, uma vez que ainda impera um racismo institucionalizado e velado em nossa sociedade, causando certo desconforto.

Para desenvolver o trabalho foi preciso "beber água na seara" de Clifford Geertz (2008):

Se a interpretação antropológica está construindo uma leitura do que acontece, então divorciá-la do que acontece — do que, nessa ocasião ou naquele lugar, pessoas específicas dizem o que elas fazem o que é feito a elas, a partir de todo o vasto negócio do mundo — é divorciá-la das suas aplicações e torná-la vazia. (GEERTZ, 2008, p. 13).

Para o trabalho de campo realizado, a teoria de Clifford Geertz, acima citada, serviu como norteador, uma vez que pessoas seriam entrevistadas nos seus locais de culto, na sua morada, onde externavam suas crenças, suas sabedorias, e seus conhecimentos transmitidos através da oralidade dos mais velhos aos mais novos. E encontramos eco nas palavras de Horta (1999), que nos ensina que "a Cultura é um aprendizado dinâmico, transmitido de geração em geração, onde se aprende com os ancestrais, se cria e recria no cotidiano do presente na solução dos pequenos e grandes problemas" (HORTA et al., 1999, p. 7).

Por derradeiro, concluindo o arcabouço, recorre-se à fala de um dos mais importantes estudiosos da contemporaneidade, Homi K. Bhabha, para justificar a intervenção:

Esses "entre-lugares" fornecem o terreno para a elaboração de estratégias de subjetivação - singular ou coletiva - que dão início a novos signos de identidade e postos inovadores de colaboração e contestação, no alo de definir a própria ideia de sociedade. É na emergência dos interstícios — a sobreposição e o deslocamento de domínios da diferença — que as experiências intersubjetivas e coletivas da nação [nationness], o interesse comunitário ou o valor cultural são negociados. De que modo se formam sujeitos nos "entre lugares", nos excedentes na soma das "partes" da diferença (geralmente expressas como raça/classe/gênero etc.)? (BHABHA, 2003, p. 20).

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Narrar a experiência na aplicabilidade do Projeto de Intervenção só é plausível após o retorno do trabalho de campo, quando o pesquisador "aprende ensinando" como Cora Coralina dizia, chega-se ao computador para relatar as experiências renovado em conhecimento e enriquecido pelas relações dialógicas, com o reconhecimento da alteridade que gera o "entre-lugar" de que nos fala Bhabha (2003). Esse "entre-lugar" pressupõe algo existente entre o olhar do outro e o do pesquisador.

ILÊ OBÁ ASÉ EGBÉ ÀLÀFIN ÒYÓ, O OBJETO DE ESTUDO

Olhar os Terreiros com pertencimento e como parte do patrimônio cultural implica não só no reconhecimento da História não única , da qual nos fala Chimamanda Adichie, mas, também desvendar a importância da ancestralidade de origem africana, e, principalmente, reconhecer as relações que esta população possui com a sabedoria popular como, por exemplo, o uso das ervas em seus cultos, na medicina popular, e as adaptações nas comidas e oferendas aos Orixás, ou seja, reconhecer os Terreiros como um centro difusor do patrimônio imaterial.

Chimamanda Adichie ensina-nos que a história única "cria estereótipos e o problema dos estereótipos não é eles serem mentira, mas eles serem incompletos". Ela acrescenta: "Muitas histórias importam. As histórias têm sido usadas para desprover e tornar maligno. Mas as histórias podem ser usadas para potencializar e humanizar. As histórias podem quebrar a dignidade de um povo. Mas as histórias também podem reparar essa dignidade quebrada".

O Sacerdote Eliel Junior ou Pai Obálájò, do Ilê Obá Asé Egbé Àlàfin Òyó, relatou ser de família tradicional do culto da Jurema Sagrada , tendo iniciado suas atividades religiosas aos doze anos de idade, no Recife, como juremeiro, incorporando a Mestra Dona Luziara da Conceição .

14 Jurema sagrada, tradição religiosa remanescente dos índios que habitavam o litoral da Paraíba, Rio Grande do Norte e no Sertão de Pernambuco e dos seus pajés, grandes conhecedores dos mistérios do além, plantas e dos animais. Depois da chegada dos africanos no Brasil, quando estes fugiam dos engenhos onde estavam escravizados, encontravam abrigo nas aldeias indígenas, e através desse contato, os africanos trocavam o que tinham de conhecimento religioso em comum com os índios. Os africanos contribuíram com o seu conhecimento sobre o culto dos mortos 'eguns' e das divindades da natureza, os Orixás Voduns e Inkices. Os índios contribuíram com o conhecimento de invocações dos espíritos de antigos pajés e dos trabalhos realizados com os encantados (é isso mesmo?) das matas e dos rios. Daí a jurema se compor de duas grandes linhas de trabalho: a linha dos mestres de jurema e a linha dos encantados. Texto disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jurema_sagrada. Acesso em: 7 jul. 2015.

15 Luziara da Conceição, segundo os adeptos da Jurema é um espírito que teve vida na terra e na sua passagem foi encantada na flor da Jurema Preta e se apresenta em uma forma mais jovem apesar de sua idade na época de sua passagem para o reino dos encantados da Jurema Preta, foram encantados na sua passagem em animal ou vegetal.

Conta o sacerdote que Dona Luziara o intuía para fazer as garrafadas e estas obtinham grande sucesso, chegando a receber clientes que viajavam mais de 500 quilômetros para consultar com a Mestra Luziara, acreditando ele que, dessas experiências fitoterápicas, nasceu seu interesse em se graduar em Farmácia. Pai Obálájò chegou a Brasília em 1999, indo morar de aluguel em Samambaia. Devido ter "feito santo" e já ter recebido seu Deká , abriu no "barraco de fundos" de sua residência o Terreiro da Nação Ketu : Ilê Obá Asé Egbé Àlàfin Òyó, que em tradução direta para português seria: "A Casa de Força do Rei, Comunidade do Governante de Òyó". Em 2000, mudou-se para o "P Norte" levando seu barracão, que também funcionou na casa dos fundos. Motivado pelo aumento da quantidade de filhos de santo, e a consequente falta de espaço para acomodá-los, além de não poder cultivar as ervas sagradas devido à falta de espaço e devido ao alto preço dos imóveis no DF, resolveu comprar um lote no recém-emancipado município de Águas Lindas para morar e construir seu Terreiro.

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Deká é o momento que após passar pelos ebós de praxe, fica recolhido sete dias, e muitos fundamentos lhe são entregues os direitos. É nesse momento em que a pessoa deixa de ser yawô ou noviço, e só acontece com no mínimo sete dias após da feitura ou raspagem. Equivale ser ordenado na Igreja Católica.

Ketu ou Ketu/ Nagô, dos muitos grupos de negros vindos para o Brasil, durante o tráfico negreiro, 03 (três) categorias ou nações se destacaram: Negros Fons ou Nação Jejê, Negros Yorubás ou Nação Ketu, Negros Bantos ou Nação Angola. Cada uma dessas 03 (três) nações tem dialeto e uma ritualística própria.

O Ilê Obá Asé Egbé Àlàfin Òyó é um Terreiro dos mais antigos da cidade, possuindo respeito entre os demais e certa liderança. Nada relacionado às religiões de matriz afro-brasileira em Águas Lindas de Goiás é feito sem sua participação. No início deste ano foi um dos organizadores da "Marcha Contra a Intolerância Religiosa" em repúdio às agressões sofridas por membros de um Terreiro coirmão. Alguns de seus filhos de santo hoje possuem "casa aberta" em Águas Lindas de Goiás, em Brasília e até em outros estados da federação.

Atualmente, o Terreiro conta com aproximadamente 70 médiuns, com um foco bastante familiar, já que boa parte dos filhos de santo possuem laços consanguíneos: mãe, filha, filhos, sobrinhas (os), netas (os), o que os torna uma grande família. Pai Obalajó informou que está em trâmite a papelada para criar uma ONG como entidade mantenedora de seu Terreiro, e que realiza cerca de oito festas anualmente. As roupas e ferramentas utilizadas pelos filhos de santo para vestir os Orixás são confeccionadas por ele mesmo, além dos doces, salgados e comidas servidas nas festas, já que diz ser também um exímio cozinheiro.

A AÇÃO DE INTERVENÇÃO

Em 19 de julho foi realizada a derradeira ação deste projeto interventivo, que contou com várias atividades. Nos referimos à palestra proferida no Ilê Obá Asé Egbé Àlàfin Òyó pelo cursista da Especialização EIPDCC conceituando Ancestralidade, Oralidade, Memória, Patrimônio Material e Imaterial, além de Educação Patrimonial. A atividade foi realizada através de recursos eletrônicos com a exibição de um PowerPoint produzido especialmente para atingir o público-alvo, quer seja: as Filhas de Santo, os Filhos de Santo, os Ogãns, as Ekedys e convidados que participam como "atores sociais" na preservação dos conhecimentos ancestrais e na preservação da oralidade como principal ferramenta de transmissão dos conhecimentos mitológico dos Orixás e Itãns.

E para ilustrar a preservação da oralidade nas Comunidades de Terreiros, os presentes, em quase cinco dezenas, assistiram com curiosidade e deslumbramento o "curta-metragem" O Tempo dos Orixás, que é quase uma obra autobiográfica de sua Diretora, a cineasta baiana Eliciana Nascimento, radicada nos Estados Unidos da América, que, com surpresa, viu sua obra ser escolhida para o "cast" do Festival de Cannes do ano passado.

Em vinte minutos e treze segundos de bela fotografia e muita magia, o silêncio tomou conta do salão principal da Casa de Santo "A Casa de Força do Rei, Comunidade do Governante de Òyó", onde normalmente são realizadas as festas públicas para louvar os Orixás.

Imagem 14 - Diante dos atabaques o computador e o data show. Fonte: Acervo Próprio
Imagem 15 - Pai Obalajó apresentando o especializando para seus filhos de Santo. Fonte: Acervo Próprio
Imagem 16 - O pesquisador na companhia do Sacerdote Obalajó. Fonte: Acervo Próprio
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A personagem Lili, uma menina de mais ou menos sete anos, é afrodescendente, que inclusive lembra a própria Diretora Eliciana quando pequena. Lili é protagonizada por uma criança da comunidade sem nenhum conhecimento de artes cênicas, mas que consegue atrair a atenção de quem assiste ao vídeo devido a sua bela atuação. A garota passava suas férias escolares num núcleo rural do litoral baiano, sempre ajudando sua avó nos afazeres litúrgicos e fitoterápicos para fazer "meisinhas" para cicrano, beltrano e fulana. Na pessoa de sua avó, assistimos a toda a oralidade transmitida à pequena Lili, que, por fim, herda o cargo de sacerdotisa de Yemanjá. Vemos o encantamento da oralidade como forma de transmissão do conhecimento mítico, buscando em sua memória todas as histórias que aprendeu oralmente durante as demoradas prosas de sua avó.

Imagem 17 -  Cartaz de Divulgação de O Tempo dos Orixás. Fonte: Candance Cine Vídeo
Imagem 18 - Lili na praia e a sua frase que norteou essa pesquisa. Fonte: Candance Cine Vídeo

Toda a magia do filme foi calorosamente debatida com os presentes e discutida a oralidade enquanto ferramenta de transmissão de conhecimentos tradicionais das "Comunidades de Terreiro", o que vai ao encontro da afirmação de Maciel (1998, p. 385): "este saber quase milenar é a adoção e a prática do registro oral, como um meio bastante eficaz para salvaguardar os seus registros mnemônicos, assim como prova de que este saber pertence a este e/ou aquele grupo".

Quando da propositura deste projeto interventivo, o objetivo primeiro era discutir a salvaguarda de toda essa bagagem cultural encontrada na oralidade dos praticantes de religiões afrodescendentes no Planalto Central, que pela falta de conhecimento, apoio logístico e territorial tende a esmorecer e se perder para sempre, pois os "mais velhos" estão morrendo, e "os mais novos", devido à intolerância religiosa, estão se afastando das Comunidades de Terreiros. Urge que algo seja feito junto às Ialorixás e aos Babalorixás do cerrado, caso contrário nosso lúdico titulo Oralidade, a História entre os lábios da diáspora Afro-brasileira no Cerrado tende a ser apenas uma "vaga lembrança".

E, falando em oralidade, não era possível deixar de citar "Mãe Beata de Yemanjá", que, mesmo do alto de seus oitenta e quatro anos de vida, é uma das incansáveis lutadoras da preservação dos contos e recontos de sua Comunidade de Terreiro e da sua tradicionalidade mitológica dos Orixás. Sempre que pode, ela está treinando pequenas e pequenos griot.

Imagem 19 - "Mãe Beata de Yemanjá" em uma de suas muitas prosas de contos e recontos da mitologia dos Orixás para os griot de amanhã. Fonte: Pallas Editora

Quando do lançamento de seu livro Caroço de Dendê - a sabedoria dos Terreiros - como Ialorixás e Babalorixás passam conhecimentos a seus filhos, Vânia Cardoso (2008), a época Diretora da NSF – National Sciencie Foundation, escreveu o que Mãe Beata lhe havia dito justificando a necessidade da publicação do livro: "nós, negros, estamos precisando muito disso, de saber as nossas histórias. Precisamos saber que nós somos capazes, nós, negros, que nós das religiões afros temos história, temos saber" (CARDOSO, 2008, p. 15).

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Após este debate, foi realizada a derradeira ação deste projeto interventivo, tendo como ferramentas IPhone, Smartphones e Ipads. Uma rápida oficina sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs, já que estas ferramentas na pós-modernidade estão cada vez mais acessíveis. A ideia é usá-las para perpetuar a transmissão dos conhecimentos da ancestralidade e as tradições ritualísticas do culto dos Orixás através da oralidade, produzindo vídeos e áudios de cantigas, rezas, festas e ensinamentos.

Dada como encerrada a ação interventiva, o Pai Obalajó agradeceu o empenho em levar de forma tão acessível um conhecimento tão importante para manter a tradição dos Inkisis, Orixás e Voduns e convidou todos os presentes para a "Gira de Caboclos & Boiadeiros", especialmente organizada para prover seu Povo de Santo deste aprendizado oferecido nesta Palestra e pela Oficina.

Imagem 20 - A "Mestra Dona Luziara da Conceição" com o pesquisador. Fonte: Acervo Pessoal
Imagem 21 - Seu "Zé Pilintra" cumprimenta a Professora Luciana Sousa do HCABA/UFG. Fonte: Acervo Pessoal
Imagem 22 - O pesquisador com Seu "Zé Pilintra". Fonte: Acervo Pessoal

A EXPOSIÇÃO COMO PRODUTO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO

A Comunidade de Terreiro "Casa de Força do Rei, Comunidade do Governante de Òyó", foi tão receptiva que durante a "gira" seus componentes nos procuraram para sugerir a montagem de uma exposição, utilizando todo o material produzido em vídeos, áudios e fotos, banners e alguns pertences litúrgicos e vestimentas de Orixás.

Imagem 23 - Os banners no Terreiro "A Casa de Força do Rei, Comunidade do Governante de Òyó". Fonte: Acervo Próprio
Imagem 24 - O salão de atividades litúrgicas de "Casa de Força do Rei, Comunidade do Governante de Òyó". Fonte: Acervo Próprio
Imagem 25 - O início das festividades do Olubajé. Fonte: Acervo Próprio

A exposição foi realizada primeiramente no Polo da UFG em Águas Lindas de Goiás no dia da apresentação dos Relatórios Técnico-Científicos, e no próprio Terreiro no período noturno durante as festividades do Olubajé , uma das mais tradicionais festas do calendário litúrgico do Candomblé, dedicada a Obaluaê, o Orixá da saúde/doença e da fartura e das pragas, que se comemora em agosto e que no sincretismo católico cristão seria São Lázaro.

Olubajé, ritual específico para o orixá Obaluayê, indispensável nos terreiros de candomblé, no sentido de prolongar a vida e trazer saúde a todos os filhos e participantes do axé. No encerramento do Olubajé é oferecido no mínimo nove iguarias da culinária afro-brasileira chamada de comida ritual pertinente a vários Orixás, simbolizando a Vida, sobre uma folha chamada "Ewe Ilará" conhecida popularmente como mamona assassina, "altamente venenosa", simbolizando a Morte (iku).

Imagem 26 - O Pesquisador, um assentamento de Exú e a Mãe Bete de Yemanjá. Fonte: Acervo Próprio
Imagem 27 - Manequins com as vestes de Dona Luziara e do Seu Zé Pilintra. Fonte: Acervo Próprio
Imagem 28 - O Pesquisador e sua Orientadora Prof. Mana Rosa. Fonte: Acervo Próprio

Na entrada da exposição havia um assentamento de Exu , dois manequins que representavam a Mestra da Jurema: "Dona Luziara" e o "Seu Zé Pilintra". Na parte interna, outros dois manequins. Desta feita, um representava Iansã (Santa Bárbara), o Orixá que comanda a tempestade e os ventos, e o outro Xangó (São Pedro/Jerônimo), o Orixá consagrado à Justiça. Havia ainda seis banners que traziam o resumo da pesquisa, o mapa do município, o mapeamento dos Terreiros, bem como de alguns objetos litúrgicos utilizados no culto dos Orixás, tais como: Ibás , dicissas , e balaio .

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Assentamento de Exú ou Igba exu, é confeccionado de várias formas, muitos são feitos em panela de ferro, alguidá, panela de barro, modelado com tabatinga, em forma humana completa, ou apenas busto, com olhos e boca feito de búzios. Igba exu também pode ser representado por uma pedra, preferencialmente de laterita ou um montículo de terra, contendo vários elementos do reino animal, vegetal e mineral.

Igba orixá, ibá orixá ou simplesmente ibá, é o nome dos assentamentos sagrados dos orixás na cultura nago vodun, onde são colocados apetrechos e fetiches inerente a cada um deles na feitura de santo. De acordo com Eurico Ramos (2011), em Revendo o Candomblé, é o assentamento do Orixá, é a base onde os praticantes do Candomblé aglutinam determinados elementos pertencentes a uma divindade específica que passam ali a representá-la.

Adicissa, enim, dicissa, esteira ou esteira nagô são nomes pertinentes à peça de artesanato, feito de vários materiais, taboa, sisal, palha, etc., muito usado no nordeste do Brasil e em terreiros das religiões afro-brasileiras. Objeto sagrado muito importante para o povo do santo, fazendo parte de quase todos os rituais como feitura de santo, apanan, sasanha, orunkó bori, tem a função de cama, mesa e divisória para compartimentos sagrados do terreiro e pejis.

Balaio, conforme Câmara Cascudo (2001), cesto confeccionado em fibra vegetal de uso doméstico, muito comum nas culturas ameríndias e afrodescendentes.

Imagem 29 - Manequim com as vestes de Oyá (Iansã/Santa Bárbara). Fonte: Acervo Próprio
Imagem 30 - Os Ibás de Oxum e de Logum Edé. Fonte: Acervo Próprio
Imagem 31 - Manequim com as vestimentas de Xangó (São Pedro/Jerônimo). Fonte: Acervo Próprio

Faziam parte também da Exposição no Polo de Águas Lindas, 25 fotografias ampliadas em tamanho A3 em Preto & Branco e Coloridas, de autoria da premiada e renomada fotógrafa Maria Carol, radicada em Parnaíba, especializada em fotografar solenidades do povo de santo em Teresina, São Luiz, em Brasília e Entorno. Fotografias estas que foram expostas nos banners na solenidade de encerramento da EIPDCC no saguão da Faculdade de Direito da UFG.

Imagem 32/ Imagem 33 - A exposição fotográfica em dois ângulos distintos. Fonte: Acervo Próprio.
Imagem 34 - O Balaio e a Adicissa (esteira). Fonte: Acervo Próprio

Os banners foram apresentados ainda no X CTE Congresso de Trabalhadores em Educação, promovido pelo Sindicato dos Professores no Distrito Federal (SINPRO – DF), em agosto de 2015, na IV SERNEGRA – Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça do Instituto Federal de Brasília, e no II COPENECO – Congresso de Pesquisadoras(es) Negras(as) da Região Centro-Oeste, em novembro de 2015.

Imagem 35/ Imagem 36 - A exposição de banners no saguão da Faculdade de Direito da UFG. Fonte: Acervo Próprio
Imagem 37 - O pesquisador e a Mostra Fotográfica na Faculdade de Direito da UFG.Fonte: Acervo Próprio

No encerramento festivo da Especialização Interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania – EIPDCC, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFG, em Goiânia, os cursistas, professores formadores, tutores e coordenadores tiveram a oportunidade de assistir um compêndio dos trabalhos apresentados, participar do lançamento do E-book e do livro com as webconferências e de um coquetel festivo.

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Imagem 38 - O pesquisador recebe o certificado da professora Marisa Damas. Fonte: Acervo Próprio
Imagem 39 - O pesquisador é cumprimentado pela professora Simone Rosa. Fonte: Acervo Próprio

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Com a alegria contagiante e envolvente que possui, a "Comunidade de Terreiros" recebe sempre com boas-vindas aqueles que aprocuram para orientação espiritual e, também, os estudiosos e pesquisadores que batem às suas portas para aprenderem seus rituais e sua historiografia através dos itãns e da oralidade. O presente projeto de intervenção foi extremamente salutar. Foi possível ensinar aprendendo, como pregava a doceira que escrevia poemas: Cora Coralina.

Todas as participações em eventos têm provocado um excelente feedback sobre nossa pesquisa. As ações desenvolvidas e a intervenção realizada têm gerado bons frutos, como o convite para publicação de um livro por uma editora do segmento afrodescendente e o convite para participarmos da 13ª Conferência Internacional sobre Representações Sociais em Marseille (Palais du Pharo), na França, de 14 a 17 de setembro de 2016, com o tema "epistemologias da vida cotidiana".

Essa energia cultuada por todos que professam as religiões de matriz africana é a responsável pelo fato dos conhecimentos médicos, gastronômicos, de linguagem e espiritual chegarem aos nossos dias, apesar do mercador de escravos ter utilizado de todos os artifícios para os negros escravizados esquecerem suas origens, o que acabava por fazer estes perderen a vontade de viver, o que levou muitos a óbito.

Conta-se que os negros, antes de embarcarem em África com destino às Américas para serem negociados como escravos, eram obrigados a dar várias voltas ao redor de uma árvore, "a árvore do esquecimento" , para que esta absorvesse as suas energias e eles não tivessem condições de se rebelarem contra o escravocrata opressor.

Árvore do Esquecimento, a diáspora africana do séc. XVI provocou a pulverização estelar de saberes. O patrimônio imaterial que cruzou o Atlântico resistiu ao ritual da árvore do esquecimento, no Benin, em Wuidá, um dos grandes portos de embarque de negros para serem escravizados. Estes percorriam uma trilha superior a 5 quilômetros da cidade até o porto. Neste percurso, todo escravo que ia embarcar era obrigado a dar voltas em torno d'árvore do esquecimento. Os homens davam 9 voltas e as mulheres 7 voltas ao redor dessa árvore. Acreditavam os mercadores de negros para escravizá-los nas Américas que este ritual resultaria na possível perda da identidade das mulheres, crianças e homens africanos ao esquecerem suas origens.

Os "entre-lugares" dos cultos de matriz africana, em suas diversas denominações, ao ordenarem em conjunto com o governo (nos três níveis) ações de assistência social e cultural nos Terreiros corroboram para a formação de ONGs e Associações que visam a consolidação e manutenção de representações que os qualificam e, simultaneamente, favorecem as práticas culturais: bandas, blocos, grupos de dança e de balé que acabam por torná-los "polos" irradiadores do patrimônio religioso e cultural - imaterial e material – que adormece junto às dicissas.

Toda a bagagem cultural, social, política e doutrinária dos atores sociais onde foram executados os estudos preliminares e a posterior intervenção comprova que, de forma geral, o Candomblé, no âmbito cultural, é estigmatizado e criticado por outros grupos sociais. Haja vista que a história e a doutrina do colonizador e dominador está arraigada com conceitos distorcidos e errôneos. Uma vez que na vida social há situações em que "cada pessoa é uma representação de uma pessoa" (MOSCOVICI, 1978, p. 64), como os filhos de santo, de jogadores de futebol, de artistas, etc., e que as reações da sociedade não são a estas pessoas, mas sim em nome das posições sociais que elas ocupam.

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Quando se trata de um indivíduo ou grupo estranho, ele não é julgado individualmente, mas no âmago do seu grupo, no coletivo, pela sua etnia, classe ou nação a que pertence como, por exemplo: os negros, candomblecistas, umbandistas, judeus, ciganos, pobres etc. Moscovici (1978, p. 64) assim explica essa classificação dentro das Representações Sociais: "[...] o racismo é o caso extremo em que cada pessoa é julgada, percebida, vivida, como representante de uma sequência de outras pessoas ou de uma coletividade".

Parafraseando Moscovici (1978), a representação social é um reflexo do real, é o imaginário na consciência individual ou coletiva de um objeto ou de ideias que lhes são exteriores, uma fotografia captada e alojada no cérebro. Enquanto a representação social é ativa, porque modela e reconstrói o dado do exterior.

Se, por acaso, a representação fosse apenas uma cena, fixaria na consciência individual ou coletiva a imagem da diversidade de papéis e funções do negro na sociedade, a riqueza da sua cultura e religiosidade, entre outras cenas do cotidiano do povo negro. Contudo, os conceitos ou preconceitos recalcadores, internalizados na nossa consciência, subtraem a visibilidade ou modelam negativamente o povo negro e, em especial, o povo dos Terreiros.

Todavia, mesmo diante desse quadro de injustiça, luta e preconceito social, religioso e racial e de desvalorização da cultura negra, que nossa sociedade pratica há várias décadas, relegando-a para um segundo plano, acreditamos que nosso trabalho há de ajudar no empoderamento do povo de Terreiro.

Por fim, este trabalho de intervenção e de pesquisa não se encerra aqui, com toda a certeza há de gerar outras ações que hão de colaborar com as transformações sociais que pretendam dar maior visibilidade ao povo negro amenizando a discriminação, a intolerância religiosa e o racismo. Axé Odara!

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