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Educação Patrimonial: Autores Mirins Resgatando o Patrimônio Cultural do Museu Casa de Câmara e Cadeia num Contexto Histórico (Museu das Bandeiras) na Cidade de Goiás

Neste relatório de intervenção discutiu-se a importância da educação patrimonial no processo educacional, em que duas instituições foram escolhidas para o desenvolvimento do ensino aprendizagem dos alunos sobre o patrimônio cultural do Museu das Bandeiras – Cidade de Goiás∕GO, como forma propulsora de práticas preservacionistas do patrimônio. O Museu é pouco valorizado pela população vilaboense , em decorrência do número de visitas registrado, que comprovaram que a maioria dos moradores não o conhece internamente. Em decorrência deste fato, a intervenção foi realizada na Escola Municipal Sonho Infantil, tendo como parceiro o Museu das Bandeiras, com o ápice da intervenção “Educação Patrimonial: Autores Mirins Resgatando o Patrimônio Cultural do Museu Casa de Câmara e Cadeia num Contexto Histórico (Museu das Bandeiras) na Cidade de Goiás”. O objetivo foi levar a comunidade escolar para que descobrissem, se apropriassem e valorizassem a herança cultural da cidade, oportunizando aos alunos a experiência e o contato direto com os bens culturais. Foi possível observar a importância de ambas as instituições trabalharem em conjunto para o crescimento do patrimônio cultural na aprendizagem dos alunos. Através da intervenção, buscou-se compreender como aconteceu a relação e o interesse dos cidadãos pelos bens patrimoniais culturais da Cidade de Goiás, sabendo-se que o Museu Casa de Câmara e Cadeia contribuirá para o transporte dessa história de uma geração a outra.

Vilaboense: “O Anhanguera, como ficou conhecido Bartolomeu Bueno da Silva, conseguiu encontrar e explorar ouro nas margens do Rio Vermelho em 1725. Com isso, ele fundou o Arraial de Sant’Anna, com a grande quantidade de ouro que foi extraído das minas no Rio Vermelho e a quantidade de pessoas que foram chegando. O Arraial, por sua importância econômica para a Coroa Portuguesa, foi elevado à categoria de Vila, e em meados de 1750 foi denominado de Vila Boa de Goyaz”, “que torna-se a capital da recém-criada capitania de Goiás. Ao ser elevada à cidade, em 1818, passou a ser chamada Goiás. No entanto, esse nome teria se originado da tribo dos goyazes, antigos habitantes da região”.

Palavras-Chave: Educação Patrimonial. Escola e Museu. Resgate Memorial.

Aluna: Juliânia Felipe Borges Valério

Polo: Cidade de Goiás

Orientadora Acadêmica: Shirlene Álvares da Silva

Coordenadora de orientação: Ivanilda Aparecida Andrade Junqueira

Anexos

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1. INTRODUÇÃO

O presente relatório visa apresentar as atividades relativas ao Projeto de Intervenção Educação Patrimonial: Autores Mirins Resgatando o Patrimônio Cultural do Museu Casa de Câmara e Cadeia num Contexto Histórico (Museu das Bandeiras) na Cidade de Goiás. A ação que originou este relatório foi realizada com a intenção de abordar o ensino aprendizagem dos alunos sobre o bem patrimonial cultural. E o ambiente para a realização de todo o trabalho foi a escola e o próprio objeto de estudo: o Museu Casa de Câmara e Cadeia (Museu das Bandeiras), dos quais foram colhidos alguns resultados que serão pertinentes ao desenvolvimento deste texto.

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Com o objetivo de promover o reconhecimento e a valorização por parte dos educandos, educadores e comunidade ao seu patrimônio cultural, foram desenvolvidas ações que permitiram o acesso aos conceitos importantes sobre o tema e sua Preservação. Dessa forma, foi possível propiciar oportunidades para que eles pudessem conhecer e reconhecer os referenciais simbólicos do patrimônio, para fortalecer o sentimento de pertencimento à cidade por meio do conhecimento da história local e incentivar as instituições para o trabalho transdisciplinar nas escolas e museus a partir do tema educação patrimonial. Os pais e responsáveis não se interessaram em ir apreciar o trabalho realizado pelos alunos. Ressaltando que o ponto de destaque do projeto era trabalhar com os alunos nas duas instituições: escola e museu, e, através destes, trazer os pais para conhecer o museu e ver a exposição dos trabalhos que foram realizados pelos mesmos.

“[...] aos alunos e alunas experiências significativas com base na construção de um conhecimento que lhes permita entender os processos histórico-culturais que envolvem e∕ou envolveram sua realidade no presente ou em um passado recente ou remoto. Ao mesmo tempo, esse conhecimento tem de lhes possibilitar o exercício do direito à memória a partir do acesso ao patrimônio do qual todos são herdeiros” (FRAGA, 2010, p. 221).

A intervenção foi realizada no prédio da Escola Municipal Sonho Infantil e Museu das Bandeiras com os alunos do 4º ano do ensino fundamental I, ressaltando como estudo o resgate e a valorização do patrimônio cultural e para instigar o museu a fazer mais ações educativas em parceria com as escolas ou o contrário. É neste processo de socialização que aprendemos a formar e a fazer parte do grupo ao qual pertencemos, aonde vamos adquirindo a nossa identidade. O objeto de estudo faz parte da memória e da história de uma comunidade que aqui viveu e fundou a Cidade de Goiás.

2. DESENVOLVIMENTO

A ação de educação patrimonial procurou despertar os alunos para a importância de inserir o estudo sobre assuntos patrimoniais culturais no ensino aprendizagem. O incentivo à preservação do bem patrimonial perante a sociedade possibilita um trabalho coletivo, interagindo-se com os familiares e membros da comunidade. Desta forma, propicia reconhecer que a herança do patrimônio cultural apresentada pelos antepassados pode ser resgatada pelas crianças e disseminada através delas no meio social. Porém, no desenvolvimento das ações, foi percebida a existência de um entrave: falta de interesse por parte dos familiares em acompanhar os filhos no desenvolvimento da aprendizagem sobre o patrimônio cultural de sua região.

A arquiteta e antropóloga Ana Carmem Amorim Jara Casco, em seu artigo “Sociedade e Educação Patrimonial”, relata que:

Elaborar projetos educativos voltados para a disseminação de valores culturais, formas e mecanismos de resgate, preservação e salvaguarda, assim como para a recriação e transmissão desse patrimônio às gerações futuras é, sobretudo, um projeto de formação de cidadãos livres, autônomos e sabedores de seus direitos e deveres (CASCO, 2006, p. 2).

Os alunos do 4º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Sonho Infantil tiveram a oportunidade de resgatar a história, conhecer e concretizar essa aprendizagem sobre o bem patrimonial - Museu das Bandeiras. Durante a realização das atividades, voltadas para a construção de uma educação que valorizasse o patrimônio cultural as duas instituições foram suporte para o desenvolvimento da aprendizagem das crianças. Foram possíveis experiências e contato direto com esse patrimônio, que é entendido como um bem “portador de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da nossa realidade”. Tais ações constituitam um instrumento pedagógico muito importante para a construção de uma educação que valoriza o patrimônio cultural, pois aliar as atividades lúdicas durante os trabalhos realizados facilitou o processo de desenvolvimento do ensino aprendizagem dos alunos.

Para Horta (1999, op. cit.),

Toda a fonte primária de conhecimento e aprendizado deve ser valorizada como instrumento de motivação individual e coletiva, para a prática da cidadania, o resgate da auto-estima dos grupos culturais e o estabelecimento de um diálogo entre as gerações (HORTA, 1999, p. 5).

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2.1 OBJETIVO GERAL

Despertar e levar os alunos a construírem conhecimentos, com experiências e contato direto com os bens culturais, para que possam investigar, descobrir, apropriar-se e valorizar essa herança cultural, o Museu das Bandeiras, sensibilizando as instituições a refletirem sobre a importância de trabalharem em conjunto para que o patrimônio do museu seja disseminado através de nossas crianças para a comunidade vilaboense.

2.1.1 Objetivos Específicos

2.2 METODOLOGIA

O Projeto de Intervenção foi realizado na Escola Municipal Sonho Infantil, na Cidade de Goiás, onde foram realizadas várias atividades sobre o Museu das Bandeiras, por meio da adaptação da proposta metodológica da pesquisa-ação aos fins interventivos. Através da educação patrimonial proporcionamos aos alunos o contato direto com diversos elementos históricos culturais que estão presentes no Museu, como o tacape, urna funerária, cuias, arco-flecha, cruz do Anhanguera, cama, guarda-roupa e etc.

Durante a visita técnica os alunos ficaram atentos aos objetos e observaram bastante as formas, cores, utilidade e sentimentos que despertavam neles. No decorrer da intervenção foi aplicado um questionário diagnóstico aos alunos, após explanação da história e exibição de vídeo sobre o Museu Casa de Câmara e Cadeia. Depois foi realizada uma oficina de pinturas e desenhos de objetos culturais, e, para finalizar, fizemos uma visita técnica, oficina com argila e o relatório final. O resgate do patrimônio histórico cultural pelos alunos do 4º ano do ensino fundamental visa conhecer e compreender a arquitetura e a história dos objetos que ali são encontrados. Com a execução desse projeto foi possível refletir que o passado constitui um referencial imprescindível para o presente e seu conhecimento possibilita entendimentos, bem como uma percepção diferenciada do mundo cultural de hoje.

2.3 PROCEDIMENTOS

A realização do projeto mostrou que é fundamental trabalhar com atividades que mostrem aos nossos alunos a importância de aprender sobre a sua herança histórico-cultural e que a escolha do Museu Casa de Câmara e Cadeia (Museu das Bandeiras) se deu porque ele guarda a história da cultura vilaboense. Por que a opção por trabalhar com duas instituições? Para oferecer à criança a oportunidade de conciliar a teoria e a prática. O seu entendimento e assimilação sobre o assunto em questão teve um caráter de aprendizagem bastante significativo, então, o objetivo da  intervenção foi bem sucedido, possibilitando, portanto, um trabalho educativo fundamentado na observação do patrimônio cultural.

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As atividades realizadas comprovam que foram atendidos os requisitos propostos. A contação da história do museu por parte da professora interventora desta proposta, caracterizada de índio, e a apresentação de um vídeo para os alunos com a diretora do Museu das Bandeiras, Gislene Bulhões, motivou-os a buscar mais conhecimento sobre a memória do patrimônio histórico cultural.

Os alunos fizeram uma visita técnica ao Museu das Bandeiras instruídos a verem sob uma ótica diferenciada. Puderam ouvir histórias sobre os objetos de cada sala do museu e, além desse material, havia uma exposição de fotografias sobre a história da capoeira do Estado do Paraná, que estava exposta na sala de chão de tábuas; local onde, originalmene, pessoas ficavam aprisionadas até seu julgamento. Podemos dizer que o patrimônio terá nova postura diante da vinculação de valores que as crianças lhe concederam, refletiram e fortaleceram o sentido da sua própria identidade. Portanto,

Ora, é a memória dos habitantes que faz com que eles percebam na fisionomia da cidade sua própria história de vida, suas experiências sociais e lutas cotidianas. A memória é, pois, imprescindível na medida em que esclarece sobre o vínculo entre a sucessão de gerações e o tempo histórico que as acompanha. Sem isso, a população urbana não tem condição de compreender a história de sua cidade, como seu espaço urbano foi produzido pelos homens através dos tempos, nem a origem do processo que a caracterizou. Enfim, sem a memória não se pode situar na própria cidade, pois perde-se o elo afetivo que propicia a relação habitante-cidade, impossibilitando ao morador de se reconhecer enquanto cidadão de direitos e deveres e sujeito da história (ORIÀ, 2006, p.139).

A realização da oficina com argila no pátio do Museu trouxe para os alunos uma experiência que os despertou para uma satisfação de poder fazer réplicas do que os indígenas deixaram como lembrança de sua história, costumes e tradições. Com isso, eles observaram que a Cidade de Goiás possui uma mistura da cultura indígena, africana e europeia bastante presente no cotidiano das pessoas. Essa oficina foi muito importante para o aprendizado sobre a cultura indígena, pois viram que em sua cidade o trabalho com o artesanato é bastante extenso e esse método foi herdado dos indígenas.

Os alunos observaram também que existem famílias na Cidade de Goiás que herdaram sobrenomes dos bandeirantes e que o município foi construído com muita dor e sofrimento dos povos indígenas e africanos. A partir do acúmulo produzido, essas atividades determinam a construção do sentido da extensão histórica da vida social de cada criança, que vivencia a história de ontem e de hoje para dar continuidade ao futuro.

Braudel assinala que “vivemos no longo prazo” para indicar que as transformações na vida social se fazem em presença de um acúmulo de sucessivas e contínuas mudanças que, produzidas numa longa duração, deságuam no presente, condicionando as alternativas de construção do futuro (BRAUDEL, 1996, p. 71/72 apud MESENTIER, s/d, p. 8).

A memória desses objetos patrimoniais dá sentido à trajetória da identidade cultural do nosso povo vilaboense. Para entender melhor essa história foram feitos desenhos, pinturas e relatórios, como mostram as imagens das atividades em sala. Eles estão colocando no papel a memória de um povo que passou por Goiás e deixou aqui marcas profundas. Dessa forma, os alunos puderam conhecer o testemunho de cada objeto sobre sua história; os quais são hoje guardados e preservados como patrimônio e herança cultural.

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No processo de queima das peças de argila não foi possível a presença dos alunos devido o horário e o tempo necessário para executar a atividade. As mesmas foram levadas para serem queimadas e depois foi mostrado aos alunos o processo através de imagens. Para realização da queima obtive a ajuda do artesão Cleone Florambel Rodrigues que fez e me orientou como é feito o procedimento.

A técnica para queima da argila é a seguinte, segundo a pesquisadora e ceramista Lu Leão (2014), “a temperatura da queima das peças pode chegar a 600º C”. Após a secagem das peças de argila por vários dias, são colocadas no forno, onde tem uma tela de arame e em cima dessa tela são colocadas telhas de barro. Após esse procedimento, colocamos as peças e cobrimos de telha novamente e, assim, começa a aquecê-las gradualmente. Esperamos até formar uma boa camada de brasas com cuidado, deixamos por cerca de cinco horas, e, então, começamos a aumentar o fogo novamente. Deixamos o fogo alto por cerca de 4 horas (a temperatura pode chegar a 600º C) para que toda a água que estiver na peça evapore. Apagamos o fogo e deixamos esfriar bem devagar, no ponto em que podemos pegar com as mãos. Recomenda-se pegar com luvas.

Um convite foi enviado para todos os pais e responsáveis dos alunos do 4º ano do ensino fundamental para que fossem até o Museu apreciar e conhecer um pouco sobre o patrimônio histórico cultural de sua cidade e o trabalho realizado por seus filhos. A intervenção foi executada com uma mostra final no pátio do Museu das Bandeiras.

No momento em que o projeto esteve exposto tivemos a visita da Escola Estadual Geralda Luzia Vecce – Leopoldo de Bulhões-GO, com os alunos do 9º ano do ensino fundamental; todos ficaram encantados com o trabalho. Também tivemos a visita dos próprios artistas mirins que fizeram todas as atividades. Eles ficaram deslumbrados com a exposição. Portanto, esse resgate proporcionou a eles uma responsabilidade na busca, na valorização e preservação do patrimônio cultural. Então, esse aprendizado os levou a refletir e a apropriar-se desse legado histórico-cultural que foi deixado para que pudessem conhecer e disseminar valores sobre o acervo de bens materiais do museu para sua comunidade e familiares.

Conforme Horta, o uso leva à aquisição de novas habilidades e conceitos:

A Educação Patrimonial consiste em provocar situações de aprendizado sobre o processo cultural e, a partir de suas manifestações, despertar no aluno o interesse em resolver questões significativas para sua própria vida pessoal e coletiva. O patrimônio histórico e o meio ambiente em que está inserido oferecem oportunidades de provocar nos alunos sentimentos de surpresa e curiosidade, levando-os a querer conhecer mais sobre eles. Nesse sentido, podemos falar na “necessidade do passado”, para compreendermos melhor o “presente” e projetarmos o “futuro”. O estudo dos remanescentes do passado motiva-nos a compreender e avaliar o modo de vida e os problemas enfrentados pelos que nos antecederam, as soluções que encontraram para enfrentar esses problemas e desafios, e a compará-las com as soluções que encontramos para os mesmos problemas (moradia, saneamento, abastecimento de água, etc). Podemos facilmente comparar essas soluções, discutir as causas e origens dos problemas identificados e projetar as soluções ideais para o futuro, um exercício de consciência crítica e de cidadania (HORTA, 1999, p. 3)

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A Diretora Maria das Graças Alves Siqueira, da Escola Municipal Sonho Infantil, recebeu o projeto com muito carinho, dando uma atenção especial para a sua realização. Também a professora regente, Ana Cristina, e a professora de apoio, Maria Beatriz, contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento do projeto com seus alunos, e nos acompanharam durante todo o processo da intervenção. Além do mais, tivemos o apoio da técnica em Assuntos Educacionais, Jordana Falcão Tavares, do Instituto Brasileiro de Museus-GO (IBRAM), para que a aprendizagem dos educandos fosse gratificante e significativa em suas vidas.

Conscientizar os alunos sobre a importância dos bens patrimoniais de sua cidade mostrou que a escola e o museu estão contribuindo para o fortalecimento da relação das crianças com suas heranças culturais. Além disso, estabelecem um melhor relacionamento destas com estes bens, para que percebam sua responsabilidade pela valorização e preservação do patrimônio, fortalecendo a vivência real com a cidadania, num processo de inclusão social.

Segundo Maria de Lourdes Parreira Horta,

(...), o trabalho de Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto desses bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos num processo contínuo de criação cultural (HORTA, 1999, p. 28).

Durante a realização do projeto, em algumas atividades não tivemos dificuldade em usar o espaço do museu e da escola, porém, para expor o trabalho final tivemos um certo contratempo, não sendo possível a exposição na parte interna do museu e sim no pátio do mesmo.

2.4 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO AVALIATIVO

Com a análise do questionário foi observado que os alunos aprenderam o processo de construção do conhecimento do espaço histórico-cultural. Passaram a valorizar e a ter atitudes de preservação do patrimônio histórico, da memória, com a ideia de pertencimento da cultura de um povo. Em suas avaliações orais, percebemos que o entendimento construído dificilmente será esquecido, porque foi vivenciado de forma significativa durante a realização das atividades. Porém, para que essas crianças continuem o seu aprendizado pelo patrimônio, elas precisam ser nutridas de sentimentos que as levem a buscar a cada ano mais informação e contato com o patrimônio histórico-cultural da sua cidade, Goiás. Como Junqueira (2014) relata, acredito que a valorização do patrimônio cultural depende do quanto as comunidades conhecem sua própria história.

2.5 RELATÓRIOS DOS ALUNOS

Durante os relatos sobre o que aprenderam a respeito do seu patrimônio, os alunos contemplaram aspectos desenvolvidos durante o processo de realização do projeto que os fizeram refletir que cada objeto que viram possui uma memória a ser lembrada. Em suas exposições focaram muito nas peças que viram no museu, os objetos indígenas, restos da igreja Igaçaba, objetos dos bandeirantes, as salas de prisão, prataria europeia, materiais de encanamento antigo, etc. Portanto, Foi atingido o objetivo principal, que é o envolvimento do museu e escola ensinando os alunos sobre a preservação do patrimônio cultural e, consequentemente, na sua construção enquanto cidadãos. Vale lembrar que “nunca é demais repetir que o ser humano se faz com troca, transmissão, repetição, continuação, construção dinâmica, viva, sadia”.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades realizadas obtiveram bons resultados na consolidação do conhecimento sobre os bens patrimoniais encontrados no Museu. No final da execução do projeto todos os envolvidos conseguiram perceber o patrimônio como parte não só dá constituição de uma cidade, mas como parte de si mesmo. Conforme Le Goff, “a memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia” (1996, p. 476).

A escola participou deste processo de apropriação através de visita ao museu, oficina, pinturas, desenhos e relatório feitos pelos alunos. O que levaram de aprendizagem foi muito gratificante e significativo, pois, pediram que fizéssemos mais projetos. Descobriram e se apropriaram de muitos conhecimentos que ainda não haviam conhecido, mesmo já tendo feito outras visitas ao museu. Eles gostaram de ouvir e assistir vídeos sobre o patrimônio e depois poder replicar os objetos com a argila. Mas não ficaram satisfeitos, pois os seus familiares não foram ver o trabalho que realizaram durante toda a semana. Mesmo sendo convidados para ir até o museu, nenhum familiar foi apreciar o legado cultural que seus filhos apropriaram.

O fato das atividades terem sido trabalhadas na escola e no museu favoreceu de forma muito significativa a aprendizagem dos alunos sobre o patrimônio histórico-cultural. Para a realização das atividades no museu não houve problemas na comunicação, fomos muito bem recebidos pela equipe. Porém, a exposição do projeto não foi possível acontecer no interior do museu, somente na parte externa, o que reforça a necessidade de muito ainda ser feito para que a educação patrimonial entre escola e museu ocorra completamente, propiciando às escolas um projeto educacional patrimonial com espaço adequado e mais condições para a mostra dessas atividades. As escolas já têm feito essa ação, porém a vontade política de usar o patrimônio como ambiente de ensino aprendizagem ainda é pequena. Foi o que nos possibilitou perceber no Museu das Bandeiras, que foi o foco da intervenção.

A educação patrimonial pode e precisa ser desenvolvida em diferentes espaços da sociedade, não se restringindo somente às ações planejadas e desenvolvidas nas escolas, como está acontecendo no museu. Para disseminar o patrimônio para a própria comunidade deve haver um trabalho em conjunto para que essas ações venham a existir. A própria comunidade não tem interesse no patrimônio de sua cidade. De acordo com Soares (2003, p. 38), “a educação patrimonial consiste numa possibilidade concreta de realização de um trabalho educativo, que promova o desenvolvimento crítico do conhecimento e a valorização da importância do patrimônio cultural pelas comunidades”. Então, a consolidação do trabalho entre as duas instituições é de grande importância para que a comunidade venha conhecer esse processo ativo de conhecimento, de apropriação e valorização da memória e da herança cultural, capacitando-os para desfrutar desse bem histórico-cultural e conduzir até as gerações futuras.

Portanto, os indivíduos têm o direito de ter acesso à sua própria cultura, à sua história, à memória coletiva e social. A educação patrimonial pode contribuir de forma muito relevante para a democratização da cultura e o acesso à informação, para a incorporação do patrimônio por toda a sociedade. Dessa forma, a educação para o patrimônio histórico-cultural pode ser usada como motivadora do processo ensino aprendizagem. É importante considerar que a educação patrimonial contribui muito na formação dos discentes, tornando-os sujeitos ativos e conscientes com capacidade para interagir com o mundo; um sujeito histórico, construtor de memórias sociais, individuais e coletivas. Para tal, basta que as instituições contribuam com essa construção.

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REFERÊNCIAS

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JUNQUEIRA, Ivanilda. Educação patrimonial II: recursos, técnicas e estratégias. DVD com Texto base do curso de EIPDCC, Goiânia: UFG/CIAR, 2014. 8 p.

LE GOFF, Jacques. Memória. In: ______. História e memória. São Paulo: Editora da UNICAMP, 1996.

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MESENTIER, Leonardo Marques de. Patrimônio urbano, construção da memória social e da cidadania. Disponível    em: <http://artigocientifico.uol.com.br/uploads/artc _1151514709_69.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2015.

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SOARES, André Luis Ramos. Educação patrimonial - relatos e experiências. Santa Maria, RS: UFSM, 2003.

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