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A Materialização do Sagrado e o Processo de Identificação dos Sujeitos na Folia de Reis em Goianésia-GO

O presente estudo procura compreender a construção da identidade sociocultural por meio da análise dos componentes simbólicos elaborados na relação homem e sua religiosidade. O homem, na medida em que buscou e busca a vida em comunidade, alcança uma série de artífices com os quais determina não só as formas de sua linha vital, bem como seus comportamentos, seus hábitos, suas crenças e subsídios necessários à continuidade destes elementos, essencialmente os socioculturais e religiosos, de maneira que, ao transmiti-los às gerações futuras, faz destas manifestações um constitutivo histórico. Portanto, buscou-se oportunizar aos alunos do Colégio Maria Imaculada, em especial o 7º ano “D”, a sensibilização no que se refere a valorizar, respeitar e participar, direta ou indiretamente, dos eventos culturais realizados em nossa cidade, Goianésia-GO, pois estes retratam a identidade, a fé e o cotidiano de um povo que forma as nossas raízes. A escola é um espaço de grande diversidade cultural, religiosa e de raça, sendo este local efervescente para se tratar de cultura e abordar o tema Folia de Reis, uma vez que na sala de aula temos alunos de várias religiões e credos. Os resultados esperados foram alcançados durante a mediação das aulas, por meio de observações e participação ativa de todos os alunos. Além do envolvimento dos mesmos, sendo coparticipantes da dinâmica desenvolvida sobre memória e memória cultural ao narrarem como se dá o envolvimento de suas famílias com as festas tradicionais em Goianésia, como a Folia de Reis e o Catira, houve também o envolvimento de toda a comunidade escolar,com a pretensão de conservar a tradição sociocultural e religiosa no contexto da comunidade goianesiense, bem como ampliar os conhecimentos relacionados a esta festa.

Palavras-Chave: Folia de Reis. Aspectos socioculturais. Religiosidade. Escola/Alunos.

Aluna: Daguimar de Fátima de Miranda Lombardi

Polo: Goianésia

Orientadora Acadêmica: Juliana Ribeiro Marra

Coordenadora de orientação: Vânia Dolores Estevam de Oliveira

Anexos

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1. INTRODUÇÃO

O presente estudo procura compreender a construção da identidade sociocultural por meio da análise dos componentes simbólicos elaborados na relação homem e sua religiosidade. Este está centrado na importante festa religiosa da região, na qual se observa a materialização do sagrado e a construção da identidade da Folia de Reis em Goianésia-GO, sendo esta parte importante do contexto sociocultural do povo goianesiense.

No campo religioso, o homem explicita seu contato com o sagrado por meio de experiências que o conduzem à determinação de um poder simbólico, com o qual consagra as manifestações, os fatos, as ações, os espaços dos quais se apossa para determinar a sua identidade. Neste sentido, o sagrado está relacionado com a divindade.

[...] O sagrado também se expressa, posteriormente à hierofania, através da Epifania. A Epifania é a festividade religiosa com que se celebra a aparição ou manifestação divina. A festa da Epifania, em 6 de Janeiro, o Dia de Reis, comemora a primeira manifestação de Jesus aos gentios, representados pelos reis magos [...]. (LOZI, 2003, p. 3).

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Todavia, a Folia de Reis, que é uma Epifania, promove a integração da divindade e do sagrado neste mundo material por meio das orações, cantorias e rezas do terço, tornando a materialização do sagrado e construindo ainda mais a identidade firme e cultural da Folia em nossa região. Logo, na perspectiva de nossa comunidade, a Festa vem de tradição familiar, o momento de agradecer a Deus pelas graças recebidas e/ou de “pagar” uma promessa feita à Divindade.

Sob esta ótica, faz-se necessário participar e produzir subsídios científicos relevantes à conservação dos valores tradicionais, socioculturais e religiosos da população goianesiense, com a finalidade de contribuir significativamente com as gerações futuras, a fim de que essas sejam agentes participativas da construção e reconstrução nas manifestações populares.

Com   as transformações socioeconômicas que vêm sofrendo nossa região, novas situações culturais são introduzidas no seio do povo goianesiense, misturando-se às questões já existentes, às tradições locais. Logo, se faz necessário a busca em acervos de relatos orais para que novos conhecimentos sejam adquiridos a fim de se estudar a cultura local, a história do nosso povo. Relatar a história, a tradição e a religiosidade que é trazida, em específico a Folia de Reis, é memorar a história, ou seja, a identidade de cada morador, de cada pessoa que fez construir a cultura do povo local.

Neste sentido, sendo a educação a propulsora do conhecimento e da cultura, se possibilita ao aluno o contato com o saber teórico acumulado pelos povos e a sua aplicabilidade no contexto sociocultural em que está inserido. Partindo desta afirmativa, percebe-se a relevância do projeto de intervenção, visto ter oportunizado aos educandos momentos de encontro entre contextos culturais locais diferentes: cultura contemporânea e cultura tradicional, bem como enfatizando a importância da preservação do patrimônio sociocultural e religioso local.

2. DESENVOLVIMENTO

Este projeto de intervenção teve como objeto de estudo uma importante festa religiosa da região, na qual se observa a materialização do sagrado e a construção da identidade da Folia de Reis neste local, sendo parte central no contexto sociocultural do povo goianesiense. Este estudo buscou compreender como ocorre a materialização do sagrado e o processo de identificação dos sujeitos na Folia de Reis em Goianésia-GO a partir de vivências desta manifestação no ambiente escolar, nas quais os discentes, em primeira instância, expuseram seus conhecimentos prévios acerca desta festa. Posteriormente, o grupo da Folia de Reis local fará uma apresentação para a comunidade escolar na tradicional festa escolar denominada “Noite Cultural”, que será realizada em setembro de dois mil e quinze, no Colégio Maria Imaculada, posterior à finalização e defesa deste relatório técnico-científico. Durante esse evento, buscamos junto à comunidade escolar intervir de forma que evidencie a tradição desta festa, bem como as características modernas incorporadas neste contexto e a importância da preservação deste patrimônio social, cultural e religioso.

A Folia de Reis de Goianésia ganhou contornos diferentes em vários aspectos, devido à presença de outros atores sociais e a adoção de outras práticas no decorrer da peregrinação até o encerramento com a festa. Este evento é de grande relevância para descrever e analisar a construção da identidade da Folia de Reis na cidade.

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A partir de dados obtidos com os foliões locais, os primeiros registros dos giros da Folia de Reis em Goiás aconteceram na zona rural já no início da década de 60, transcendendo para as cidades somente na década de 70, com o êxodo rural. Período este em que ocorreu uma grande transformação no giro, que até então era realizado a cavalo e a pé de uma fazenda a outra, sendo que a partir desta década os giros passaram a acontecer na cidade e os percursos tornaram-se mais curtos; ou seja, de casa em casa, mas sempre buscando encerrá-lo na fazenda de um dos foliões ou, em se tratando mais especificamente da comunidade local, em algum distrito de Goianésia-GO.

Ao observar o grupo de foliões de Goianésia percebe-se que eles não são diferentes dos demais grupos de foliões do Brasil, com destaque para a Folia de Minas Gerais e de Goiás, berços das raízes da Folia de Reis em Goianésia. De acordo com a pesquisa de campo, nos rituais da Folia de Reis as cantorias são músicas religiosas relacionadas à peregrinação dos três Reis Magos a Belém para homenagear o nascimento do menino Jesus.

O núcleo ritual de uma folia de Reis é o conjunto dos seus cantores e instrumentistas, acompanhados de um palhaço, também chamado de boneco. [...] esse conjunto é denominado folia de Reis, folia de Santos Reis, folia dos Três Reis Santos ou, mais especificamente, Companhia dos Três Reis Santos. Os seus integrantes são chamados de foliões ou de foliões de Santos Reis. (BRANDÃO, 2004, p. 347).

O autor supracitado, nesta mesma obra ressalta que a organização da Companhia dos Três Reis Santos pode ser explicada por meio das posições dos componentes, obedecendo aos critérios internos de exercício e atuação nos rituais. Neste sentido, durante a roda de conversa e acompanhamento da Folia de Reis em Goianésia ficam explícitas as funções de cada integrante deste grupo, que segue sempre uma hierarquia, sendo que o Embaixador é responsável pelo grupo de foliões. Para este, a folia é o seu grupo ritual, reunindo-se todos os anos durante os festejos religiosos de culto aos Santos Reis. Ele é considerado, ao mesmo tempo, um empregador dos Reis e o responsável pela folia de sua Companhia.

O Gerente é a pessoa que cuida da disciplina do grupo. Ele reúne os foliões e faz advertências a respeito dos atributos religiosos e de obrigação do ritual. Além disso, controla os horários, vigia o uso das bebidas alcoólicas e a atuação de cada folião dentro ou fora das apresentações das cantorias. Este papel é delegado ao folião pelo imperador.

O Palhaço é um personagem da folia. Ele acompanha a jornada da Companhia e é um de seus membros. O seu comportamento no ritual opõe-se ao de todos os outros foliões. Ele não obedece nem ao gerente e nem o imperador, age por conta própria, sempre buscando divertir e despertar a atenção de todos.

A Bandeira, por sua vez, é o componente mais importante da Folia de Reis, haja vista que se trata de um item sagrado e fundamental na peregrinação. Já o nome folião é dado a qualquer um dos participantes rituais da folia de Reis. Ele se aplica inicialmente ao folião do ano, bem como a todos os integrantes do grupo. Embora não usem roupas especiais para sua atuação durante a jornada, os foliões de Santos Reis distinguem-se de todos os outros participantes por usarem uma pequena fita vermelha pregada sobre o bolso da camisa.

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O folião do ano não é personagem fixo do grupo, mas em seu ano de compromisso ele deve participar de toda a jornada, de preferência carregando a bandeira dos Três Reis. As demais pessoas envolvidas não são personagens permanentes da folia, não precisam acompanhar todos os giros, elas ficam esperando a chegada da folia em suas casas para a reza do Santo Terço todos os dias do cortejo, sendo que o mesmo pode ser rezado ou cantado com a utilização de vários instrumentos musicais, tais como: viola, violão, pandeiro, tambor, triângulo, reco-reco e sanfona.

O mais importante dos personagens é o festeiro, o dono da casa da entrega, pois é onde a folia faz o ritual de adoração ao Menino Jesus e onde termina o giro no dia 06 de janeiro, sendo ele responsável pela festa de Reis, ocasião em que também é escolhido o próximo festeiro. Portanto, conforme explanado, pode-se afirmar que a Folia de Reis é um processo cultural e religioso. Desta forma, Pesavento (2004, p. 15) ressalta que “A cultura é ainda uma forma de expressão e tradução da realidade que se faz de forma simbólica, ou seja, admite-se que os sentidos conferidos às palavras, às coisas, às ações e aos atores sociais se ajustam de forma cifrada, portanto já um significado e uma apreciação valorativa”.

Sendo a escola uma instituição mediadora, no que diz respeito ao aspecto educacional, bem como um espaço rico em diversidade social, cultural e religiosa, é importante que estudos e ações como esta ocorram no âmbito escolar, com vistas à conscientização de toda a comunidade quanto ao respeito, tolerância e valoração dos diferentes grupos socioculturais e religiosos. Neste sentido, durante a implementação deste projeto no contexto escolar, evidencia-se que todos os envolvidos neste trabalho: cursista, diretora, coordenadora, professora e alunos agregaram mais conhecimentos no que diz respeito à cultura goianesiense.

Todos puderam conhecer um pouco sobre a Folia de Reis, seus símbolos, sua história e os motivos individuais que fazem de seus participantes grandes devotos dos Santos Reis. O que ficou evidente é que a Folia de Reis em Goianésia-GO está e estará em processo de identificação sempre, pois cada indivíduo ali inserido carrega em si valores de grande significado para a inovação dessa cultura.

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar os componentes simbólicos elaborados na relação homem e religiosidade na construção da identidade sociocultural do povo de Goianésia-GO, de tal forma que haja aprofundamento do estudo acerca da Folia de Reis neste local.

2.1.1 Objetivos específicos

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2.2 METODOLOGIA

Para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica fundamentada nas obras de Bloch (2001); Brandão (1981); Lozi (2003); Marconi; Presotto (1986); Pesavento (2004); Pessoa (2002); Pignata (2008); Rios (2006), entre outras informações e ideias de teóricos que discutem sobre a materialização do sagrado e o processo de identificação dos sujeitos na Folia de Reis, mais especificamente no contexto de Goianésia-GO. Utilizou-se também o método exploratório, visando proporcionar novos conhecimentos acerca da problemática em questão, de forma a possibilitar melhor apreensão da temática.

Quanto à natureza do estudo, foi preponderantemente qualitativo, pois na construção e na elaboração dos resultados observa-se o envolvimento do pesquisador com o objeto de intervenção, o que fica evidente na subjetividade na análise dos dados. Já a finalidade do estudo é básica, visando o avanço do conhecimento teórico desta manifestação sociocultural e religiosa.

Neste sentido, a primeira etapa deste trabalho científico foi composta pela peregrinação da Folia de Reis, que aconteceu entre os dias 25 de dezembro de 2014 a 06 de janeiro de 2015, no contexto da comunidade local, ressaltando as características tradicionais da festa e as novas características que foram incorporadas pelos novos componentes; bem como a forma de organização e movimentação dos seus integrantes. Logo, a segunda parte do projeto de intervenção foi levar para o contexto escolar essa manifestação sociocultural e religiosa, de tal forma que os educandos puderam expor os seus conhecimentos prévios acerca desta festa e demais festividades, como a Catira, que também é uma apresentação cultural e faz parte das festividades em Goianésia. Posteriormente, em sala de aula apresentamos de forma interdisciplinar, na disciplina de Língua Portuguesa, na turma do 7º ano “D” do turno vespertino do Colégio Maria Imaculada, o conteúdo já planejado pela professora regente da disciplina, Camila.

Nos detivemos num processo descritivo, envolvendo a observação do objeto de estudo e descrevendo-o, alicerçados na História Oral, em sua dimensão semibiográfica, associando-a aos constitutivos teóricos e na entrevista realizada de maneira descritiva, sem direcionamento de perguntas fechadas, deixando os foliões livres para abordar e narrar a sua participação na Folia de Reis de Goianésia. Por meio de observações e fotografias para coleta dos dados, utilizamos estratégias próprias de uma pesquisa de campo adaptadas à intervenção, para a festa religiosa em estudo, que aconteceu na cidade nos períodos supracitados.

Quanto à temporalidade, é um trabalho transversal, visto o curto período de tempo para observação do fenômeno e coleta dos dados e aplicação do projeto de intervenção junto à comunidade escolar. Percebe-se, portanto, ter sido uma ação qualitativa e que visa agregação de conhecimentos da cultura e religiosidade do povo goianesiense.

2.3 PROCEDIMENTOS

Os procedimentos seguiram a seguinte ordem:

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Este trabalho científico foi de grande relevância para apreensão da temática “A materialização do sagrado e o processo de identificação dos sujeitos na Folia de Reis”, neste caso, em específico, no município de Goianésia. Houve esclarecimento das principais dúvidas suscitadas na propositura inicial do estudo, conduzindo-o de maneira interdisciplinar em sala de aula, bem como propondo a compreensão da Folia de Reis e a importância de sua conservação como elemento sociocultural e religioso na incorporação da história do povo goianesiense.

Portanto, os produtos finais deste trabalho são: o relatório final, produzido após reuniões com o corpo docente, coordenadora pedagógica e diretora da instituição escolar, a partir da mediação das aulas junto aos alunos, descrevendo as dinâmicas utilizadas e usando as fotografias produzidas nas mesmas. O relato traz os resultados alcançados ao mediarmos o conteúdo junto aos alunos em sala de aula e em atividades extraclasse, realizadas em casa junto aos seus familiares por meio de pesquisa oral e fotográfica, apresentada pelos mesmos em sala.

Para finalizar as ações propostas, será realizada uma apresentação do grupo da Folia de Reis de Goianésia no tradicional evento do Colégio Maria Imaculada, denominado “Noite Cultural”. Essa atividade acontecerá em setembro, após a defesa deste trabalho, mas, mesmo assim, estaremos participando junto com a comunidade escolar, buscando intervir de forma que evidencie a tradição desta festa, bem como as características modernas incorporadas neste contexto e a importância deste patrimônio sociocultural e religioso para as gerações futuras.

2.4 RESULTADOS

Durante o desenvolvimento deste trabalho pôde-se perceber que a festa de Folia de Reis em Goianésia-GO teve como alicerce a                                                       religiosidade do seu fundador, Laurentino Martins Rodrigues, e de sua esposa, assim como a da famílias que vieram de Araguari-MG juntamente com o senhor Laurentino e sua família, acreditando na abundância de água e terra fértil. Com a chegada ao município, o marco inicial foi a construção de um cruzeiro e a capela de Nossa Senhora da Abadia, que foi trazida pela família do fundador.

Junto com a religiosidade vieram também alguns costumes culturais e religiosos com a festa da Folia de Reis, que tomou novos contornos a partir da adoção de outras práticas no decorrer da peregrinação e da inserção de outros atores durante os festejos; conservando as cantorias em homenagem à peregrinação dos Três Reis Magos a Belém para homenagear o nascimento do Menino Jesus. Neste contexto, percebe-se durante as peregrinações a incorporação de novos costumes e hábitos, pois durante a romaria às casas dos fiéis foi possível perceber que os foliões chegavam de carro e micro-ônibus nas residências que seriam visitadas. Ao chegar ao local, os componentes do grupo se organizavam para entrar na casa seguindo todo um ritual, onde cada membro tem uma função distinta.

Durante a roda de conversa o senhor José Matias explicou o porquê do nome folião e como distingui-lo dos demais participantes e visitantes da festa. Segundo ele, o nome folião é dado a qualquer um dos participantes da Folia de Reis, sendo que se aplica, inicialmente, ao folião do ano e aos demais participantes do ritual, embora não usem roupas especiais para a sua atuação durante a jornada. Todavia, eles se distinguem dos outros por usarem sobre o bolso da camisa uma pequena fita vermelha.

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Outro fato curioso a respeito da festa é que o folião do ano não é personagem fixo do grupo, mas no seu ano de compromisso ele deve participar de toda a jornada, de preferência carregando a bandeira dos Três Reis Magos. As outras pessoas envolvidas não são personagens permanentes da folia, assim não precisam acompanhar todos os giros, muitos ficam em casa esperando os foliões chegarem.

Portanto, o Projeto de Intervenção proporcionou um momento de conhecimento sociocultural e religioso à comunidade escolar do Colégio Maria Imaculada em Goianésia, visando a preservação deste patrimônio da comunidade goianesiense. Este projeto é uma reflexão das ações para a conservação da tradição da Folia de Reis e uma análise dos elementos que a ela foram incorporados ao longo do tempo nas gerações, de forma que a comunidade reconheça e valorize este evento no contexto do município. Todavia, não só como uma cultura, mas como uma personificação do sagrado representada pela fé das pessoas envolvidas, que agradecem à Divindade pelas graças recebidas. Neste sentido, como forma de transmissão de conhecimento, de valor cultural, no qual se manifesta as danças, os rituais, os costumes, as declamações de trovas e encenações que representam uma história de cunho religioso: “O Nascimento do Menino Jesus”.

Portanto, com a implementação deste trabalho, os resultados esperados foram alcançados durante a mediação das aulas, por meio de observações e participação ativa de todos os alunos. Assim como com o envolvimento destes, sendo coparticipantes da dinâmica desenvolvida sobre memória e memória cultural ao narrarem como se dá o envolvimento de suas famílias com as festas tradicionais em Goianésia, como a Folia de Reis e o Catira, por exemplo. Toda a comunidade escolar esteve envolvida com a pretensão de conservar a tradição sociocultural e religiosa no contexto da comunidade goianesiense, bem como ampliar os conhecimentos relacionados a esta festa.

3. CONCLUSÃO

Após leituras realizadas no decorrer do curso de especialização em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania, tive a certeza do tema proposto para aprofundar meus estudos e pesquisas. Observei que a festa da Folia de Reis, assim como a história, não é imóvel. Ela passa por períodos em que precisa ser recriada, reapropriada e, muitas vezes, é necessário ressignificar as ações e expressões culturais e religiosas dos seus agentes participantes para manter e preservar este evento sociocultural e religioso.

Percebo que cultura e religiosidade interagem-se com a modernidade; seja na adaptação dos instrumentos, uma vez que estes estão modernos e mais sofisticados, seja na forma de vestir, no modo de estruturar a chegada e saída da folia, de apresentar-se, e ao guiar os participantes da folia. As mudanças foram necessárias para preservar e manter a peregrinação do grupo da Folia de Reis, sendo que todo o rito se dá pela fé inquestionável no Menino Jesus e em Santos Reis. Percebi, então, que é aí que se dá a materialização do sagrado, na fé inquestionável de todos os foliões, nas pessoas que recebem a folia em suas casas, no amor e no carinho com que tudo é preparado, no sorriso das pessoas, no brilho do olhar de todos os presentes, na disposição das famílias em prepararem a mesa de comida, seja no café da manhã, almoço, jantar ou no pouso da folia, nas orações, nos giros, enfim, em todos os momentos, do início ao fim do cortejo da Folia de Reis.

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Assim, este festejo religioso mantém a maioria dos seus elementos tradicionais desde o início da sua peregrinação há mais de 53 anos, mas também ganhou novos elementos. Observo que a incorporação de novos elementos foi determinante para que a festa não perdesse a identidade religiosa dos fiéis e deu abertura para que todos participem nos giros, independente da sua idade ou sexo. Deste modo, todos interagem em um espaço de tempo divino onde tudo se explica e justifica em nome da fé; esta que acompanha o homem desde a sua origem e permanece mesmo nos dias atuais.

Faz-se necessário o resgate dessa cultura, levando em consideração a riqueza de detalhes e sentimentos que há na Folia de Reis. Este projeto de Intervenção foi uma grande oportunidade de levar até os alunos do Colégio Maria Imaculada, em especial o 7º ano “D”, a sensibilização no que se refere a valorizar, respeitar e participar direta ou indiretamente dos eventos culturais realizados em nossa cidade, pois estes retratam a identidade, a fé e o cotidiano de um povo que forma as nossas raízes. A escola é um espaço de grande diversidade cultural, religiosa e de raça, sendo um local efervescente para se tratar de cultura e abordar o tema Folia de Reis, uma vez que na sala de aula temos alunos de várias religiões e credos. Ao tratar o tema, tive muito cuidado para que este não se transformasse somente em um fato religioso, mas sim um evento cultural que, independente do credo, traz em si a fé dos sujeitos participantes.

A abordagem deste tema foi muito importante para mim, pois ao participar, acompanhar e receber a Folia de Reis em minha casa tive momentos de grande expressão de fé que emanava do grupo participante, seja de quem estava cumprindo o voto, recebendo em suas casas, ou simplesmente acompanhando o giro. Ao conversar com os senhores José Martins e Benedito Pacheco, que participam há mais de cinquenta anos deste ritual, observo que a festa se tornou para eles uma vivência cotidiana, que se articula por meio de sua organização e realização. Através das festividades é possível perceber os comportamentos, as representações e o modo de ver o mundo deste grupo, preservando assim os traços desta tradição cultural.

Portanto, realizar este projeto de intervenção no âmbito escolar foi de suma relevância visto que a escola exerce um papel imprescindível neste contexto, haja vista que nela há mediação de conhecimentos acumulados ao longo do tempo pela humanidade, o que oportuniza a preservação desta memória sociocultural e religiosa, bem como a sua readequação a contemporaneidade.

REFERÊNCIAS

BLOCH, Marc Leopold Beijamim. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

BRANDÃO, Carlos R. Os sacerdotes da viola. Petrópolis: Vozes, 1981.

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BRASIL.CENSO        IBGE.                Cidades@:                    Goiás Goianésia.     2014. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=520860 &search=goias|go ianesia|infograficos:-informacoes-completas>.Acesso : 02 mar. 2015.

LOZI, Carolina Tomaz de Aquino et al. As folias de reis e o espaço geográfico da religião. Uberlândia: UFV, 2003.

MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 1986.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História cultural. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
                                                                                                   

PESSOA, Jadir Morais. Mestre de caixa e viola. Tempo e Presença. n. 321, v. 33-34, jan./fev. 2002. p. 01-16.

PIGNATA, Maria Izabel Barnez. Metodologia educacional 1. In: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Especialização em Metodologia em Ensino Fundamental: módulo 1 e 2 / Ciar. Goiânia: CEGRAF/UFG, 2008. p. 100-124. Módulo 2.

RIOS, Sebastião. “Os cantos da Festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário”. Revista Sociedade e Cultura. Goiânia,  v. 9, n. 1, jan./jun. 2006. p. 65-76.