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Igreja de São José de Mossâmedes: Memória e Patrimônio Cultural Material no Município de Mossâmedes

Este Relatório de Intervenção intitulado "Igreja de São José de Mossâmedes: memória e patrimônio cultural material no município de Mossâmedes" é uma reflexão sobre a importância da memória social dos mossamedinos, em que busquei por meio de construções/edificações produzir os "lugares de memória, mais especificamente, a Igreja São José de Mossâmedes, principal local de rememoração desse passado. Procurei fazer uma (re)construção dos primeiros acontecimentos – período em que a cidade era um aldeamento "modelo" da Província de Goyaz, criada com o objetivo principal de abrigar e colonizar as "tribos" indígenas da região. Assim, através de atividades orais, iconográficas e visitações, busquei estabelecer uma rememoração e reflexão dessa primeira fase da cidade de Mossâmedes (final de século XVIII e início do século XIX), colaborando para a preservação da história de formação do município e o reconhecimento deste patrimônio histórico tão importante para a cidade.

Palavras-chave: Memória. Igreja de São José de Mossâmedes. "Lugares de Memória". Patrimônio Histórico.

Aluna: Renata Vieira Pinto

Polo: Cidade de Goiás

Orientadora Acadêmica: Shirlene Álvares da Silva

Coordenadora de orientação: Ivanilda Aparecida Andrade Junqueira

Anexos

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INTRODUÇÃO

O território de Mossâmedes surgiu da Aldeia de São José, que se estruturou partindo do planejamento de uma ocupação territorial que influenciou a população indígena, interferindo na sua cultura e modo de viver. Isso ocorreu porque Portugal definiu uma estratégia de ocupação do interior goiano através de núcleos povoadores com determinações de presídios e aldeias. A partir de 1774, a política dos aldeamentos atingiu milhares de índios (Javaés, Karajás, Akroás, Kayapós, etc.), os quais, devido a epidemias, escravidão e maus-tratos, fugiram aos poucos dos aldeamentos e, acuados em seu próprio território, embrenharam-se nas matas, onde a defesa era maior. Isso causou a decadência dos aldeamentos, principalmente o de São José de Mossâmedes.

O projeto de intervenção "Igreja de São José de Mossâmedes: memória e patrimônio cultural material no município de Mossâmedes" tratou-se de um estudo referente às heranças culturais do período histórico que marca o surgimento da cidade. Uma vez que, ao falar dessa época e o que remete a este período, a população mossamedina cita a Igreja de São José, cujos relatos, passados de geração a geração, contam que foi erguida com trabalho escravo de índios e negros em meados do ano de 1774, por isso essa data fica em destaque na parte central da igreja.

Assim, apresentam-se elementos que  configuram a Igreja de São José de Mossâmedes como patrimônio cultural material, pois é caracterizada pelos mossamedinos como um lugar de memória e de identidade da população. Conforme Oliveira (2014): "[...] cada bem material guarda saberes e modos de fazer da natureza absolutamente imaterial ou intangível e, no limite, os saberes, sentimentos [...]"" (p. 12). A memória, por sua vez, é uma forma de preservação da história, pois, quando um grupo desaparece, nesse caso os indígenas que foram trazidos para o aldeamento de São José, a única forma de preservar as lembranças é através das narrativas, por meio da escrita, da transmissão oral, dos monumentos caracterizados como "lugares de memória", como uma representação de experiências do passado.

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A expressão "lugares de memória" foi criada pelo historiador francês Pierre Nora. Para o autor, os lugares de memóriasão, em primeiro lugar, "lugares" formando três acepções: são "lugares materiais" onde a memória social se ancora e pode ser apreendida pelos sentidos; são "lugares funcionais" porque tem ou adquiriram a função de alicerçar memórias coletivas e, por fim, são "lugares simbólicos" onde essa memória coletiva – vale dizer, essa identidade - se expressa e se revela. São, portanto, lugares carregados de uma vontade de memória. (NEVES, 2007).

Deste modo, busquei incutir nos alunos do 4º ano, do ensino fundamental de primeira fase, da Escola Municipal Antônia Barbosa Alves, a ideia da materialidade e da imaterialidade da igreja, dos saberes escondidos nas grossas paredes da igreja, nos sentimentos ali empregados durante sua construção e mostrar, através da memória, a significância deste patrimônio cultural para a cidade.o objeto escolhido para o desenvolvimento do projeto de intervenção foi o patrimônio cultural material da cidade de Mossâmedes, a Igreja Matriz de São de José, construída no período colonial, no ano de 1774, pelos índios que foram trazidos para o local quando esta ainda era uma aldeia, e tombada como patrimônio histórico pela Lei Estadual nº 9.843, de 18 de outubro de 1985.

A partir disto, foram analisados aspectos históricos da formação do Aldeamento São José de Mossâmedes com os alunos do 4º ano, com aula expositiva e leitura de material impresso em uma aula de 50 minutos. Em outra aula, também de 50 minutos, foram analisados com os alunos os aspectos relevantes para o tombamento da Igreja como Patrimônio Cultural Material do Estado de Goiás. Como ato principal, foram promovidas ações de conscientização e busca de meios junto aos poderes públicos para a revitalização e conservação desse patrimônio local.

Enfim, o projeto de intervenção foi de grande relevância porque auxiliou na compreensão do processo histórico de Mossâmedes, pensando o patrimônio como uma fonte de preservação da memória e da identidade local, despertando admiração e respeito por parte dos alunos e moradores.

DESENVOLVIMENTO

A cultura é uma constante aprendizagem. De acordo com Benedict (1972), é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Assim, é preciso salientar que todos os seres produzem cultura, seja ela material ou imaterial. Deste modo, por mais que uma cidade seja pequena, tradicional e arcaica, a sociedade apresenta conhecimentos que foram adquiridos e passados de gerações a gerações, criando redes culturais. Como salienta Hall (1997), "um conjunto de significados partilhados".

A cultura não é fixa, ela se transforma com o tempo, com as necessidades da sociedade e é essa diversidade cultural que torna a vida essencial, como aborda o Artigo I da Declaração Universal sobre Diversidade Cultural: "[...] a diversidade cultural é, para o ser humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza".

Por isso, ao pensar o patrimônio cultural mossamedino nos deparamos com vários segmentos, pois este se refere ao conjunto de bens materiais e imateriais que foram transmitidos de geração a geração ou criados no presente. De acordo com Lemos (1981) (OLIVEIRA; KUNZLER, 2014):

Devido a sua importância para a memória, cultura e identidade de um povo, a preservação cultural para a posteridade é garantida por lei. No entanto, preservar não é somente guardar um bem, é manter vivos os usos e costumes de um povo, mesmo com alterações. LEMOS (p. 7).

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Portanto, o patrimônio cultural da cidade serve, entre tantas coisas, para deixar acesa a memória individual e coletiva de uma sociedade. Pensando, nesse caso específico, na Igreja de São José como um elemento arquitetônico que nos remete à época em que a cidade era uma aldeia construída pelos portugueses no período colonial, que guarda saberes e modos de fazer de natureza material e imaterial.

Na perspectiva de Jenkins (2001, p. 42-43): "[...] a história é a maneira pela qual as pessoas criam, em parte, suas identidades [...] a história foi, é e será produzida em muitos lugares e por muitas razões diferentes". Assim, por identidade, entende-se algo que vai se formando com o tempo e em diversos locais, por processos inconscientes e que por este modo está em constante formação, como aponta Hall (2006, p. 38): "Ela permanece sempre incompleta, está sempre "em processo", sempre "sendo formada"". A Igreja é para muitas pessoas um local de vivência religiosa, mas os alunos do 4º ano começaram a compreender a inter-relação entre memória/identidade e patrimônio. As crianças compreenderam que, muito mais que um lugar religioso, a igreja é um lugar de memória e que, por isso, merece ser reconhecida como patrimônio histórico de Mossâmedes e de Goiás.

É por meio da linguagem que a memória é socializada e unificada, aproximando os sujeitos e limitando suas lembranças sobre os acontecimentos vividos no mesmo espaço histórico e cultural. Halbwachs (1993) ensina que a memória é um trabalho de reconstrução alterada do passado, de acordo com valores e referências culturais do grupo social ao qual o sujeito da memória pertence na atualidade.

[...] a lembrança é em larga medida uma reconstrução do passado com a ajuda de dados emprestados do presente, e além disso, preparada por outras reconstruções feitas em épocas anteriores e de onde a imagem de outrora manifestou-se já bem alterada. HALBWACHS (1993, p. 71).

Sob a perspectiva da temática em estudo, percebeu-se a necessidade de identificar os primeiros habitantes de Mossâmedes nas "paredes" espessas de adobe e terra socada da Igreja de São José, nos portais, no altar-mor de madeira entalhada, enfim, não só na materialidade, mas também na imaterialidade desse espaço. O solo mossamedino foi palco vivo da "tragédia" que vitimou milhares de índios que viviam na região. Mossâmedes foi criada para servir como um aldeamento modelo de pacificação para abrigar índios de várias etnias e regiões (Akroás, Javaés, Karajás etc.), porém, o projeto de construção do "Aldeamento modelo" não teve sucesso e este entrou em decadência, supostamente após a morte da índia catequizadora Damiana da Cunha.

Hoje, da antiga aldeia, a Igreja Matriz de São José se perpetua na memória da população como marca dessa época e, por isso, é considerada pelos moradores do município como o único local que remete a este período. A igreja foi construída pelos índios no período da colonização e, após sua quase extinção devido à inadaptação das tribos indígenas, foi reconstruída no período de 1770 a 1774:

No período de 1770 a 1774 o aldeamento passou por uma completa reconstrução, devido sua quase extinção por inadaptação dos índios, edificando-se, com auxílio do braço indígena, a Igreja de São José de Mossâmedes, obra que vem resistindo à ação destruidora do tempo e que contribuiu para o desenvolvimento da catequese dos "Caiapós", sob a direção de Damiana da Cunha, neta do cacique daquela tribo. (SOUZA, 2006, p. 16).

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Porém, a ruína física do aldeamento "modelo" não apagou a história presente na memória dos antigos e atuais moradores de Mossâmedes. A preservação desse legado histórico, pois só restou a Igreja de São José, faz-se necessária para o entendimento do processo pelo qual os indígenas passaram, contribuindo assim para a construção do presente e do futuro.

Este monumento histórico não é apenas um local sagrado, mas também uma simbologia para a memória, onde a população local identifica na sua construção parte de sua história com a história da própria cidade. Devido à sua importância e valorização histórica, como já foi dito, a Igreja de São José foi tombada como patrimônio histórico pela Lei Estadual nº 9.843, de 18 de outubro de 1985.

OBJETIVO GERAL

Contribuir para a visibilidade e reconhecimento da Igreja de São José de Mossâmedes como um patrimônio cultural material e um local de memória e de identidade da população mossamedina.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

METODOLOGIA

Para o desenvolvimento da aula expositiva e dialogada sobre o contexto histórico de formação de Mossâmedes, tanto os métodos quantitativos quanto os qualitativos foram referências para o trabalho de intervenção, no qual foi feita uma pesquisa bibliográfica em livros, revistas, jornais, complementada pela pesquisa de fontes documentais e iconográficas. Assim, foi organizado um material de leitura para os alunos, a sondagem do que sabiam sobre a história da cidade e a análise de documentos e fotografias do período do aldeamento até a presente data.

Depois, os alunos tiveram aula de campo, onde foi feita uma visita à Igreja de São José, momento em que eles ficaram à vontade para analisar, fotografar e buscar significados para a história de Mossâmedes e pensar a igreja não como um local sagrado, mas como um lugar de preservação da memória, de forma que percebessem o material e o imaterial naquele patrimônio histórico. Depois, ao voltar à escola, os alunos puderam expor de forma oral suas conclusões, as fotografias foram mostradas em data show e cada aluno pôde fazer uma autoavaliação das aulas teóricas e de campo, enfatizando o que aprenderam e as dúvidas que ainda tinham com relação a esse patrimônio histórico.

PROCEDIMENTOS

No primeiro momento, no dia 10 de junho de 2015, foi feita uma sondagem do conhecimento prévio dos alunos do 4º ano do ensino fundamental de primeira fase, da Escola Municipal Antônia Barbosa Alves, com relação ao patrimônio histórico local. Para isso, foram afixadas algumas figuras no quadro giz, para que os alunos dissessem o que é, ou são, patrimônio(s) histórico(s) para eles:

Diante das figuras expostas, 100% dos alunos elegeram a Igreja Matriz de São José como patrimônio histórico de Mossâmedes; também foram apontados a Pedra Goiana e o tradicional desfile de carros de bois. Somente uma aluna, aqui denominada "Aluna A", disse que todas as figuras são de patrimônios históricos, e quando indagada do porquê dessa conclusão, ela disse: "porque todas possuem história, tem importância social e nos faz lembrar de alguma coisa e porque muitas aí acontecem há muito tempo, pelo menos é o que nossos pais nos contam".

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No segundo momento, após essa dinâmica, foi organizado o gráfico seguinte, de acordo com as respostas dadas pelos alunos.

Gráfico criado a partir das concepções dos alunos do 4º ano sobre o que consideram patrimônio local.

No terceiro momento exposto foi conceituado com os alunos o que é Patrimônio Histórico: "[...] o conjunto dos bens materiais e imateriais de uma nação, estado, cidade, que constituem herança coletiva, a partir do reconhecimento de sinais de uma identidade, e são transmitidos de geração a geração ou criados no presente (ZANIRATO; RIBEIRO, 2006)" (OLIVEIRA; KUNZLER, 2014, p. 7).

E o que viriam a ser bens materiais e imateriais? Os bens materiais são os objetos de valor cultural e podem ser bens móveis e imóveis. Exemplos: um quadro, um prédio, um conjunto mobiliário, um artefato artesanal e outros. Já os bens imateriais são os conjuntos de saberes e conhecimentos relacionados à vivência de uma comunidade e passados de geração a geração. Resumindo: Os bens materiais são aquilo que você pode ver e tocar e o imaterial é aquilo que não é palpável.

No dia 11 de junho de 2015, dando continuidade à execução do Projeto de Intervenção, foi feita a consulta de fotografias, buscando refletir sobre a valorização desse patrimônio cultural para o município. (Ver imagens em anexo). Também estabeleceu-se um diálogo com os alunos sobre a necessidade do tombamento para a conservação da memória histórica de um bem cultural, pois é nas cidades, nas vivências e costumes passados de geração a geração que algo se torna relevante e merecedor de preservação, formando assim a memória coletiva dos mossamedinos, onde "[...] a memória de um pode ser a memória de muitos, possibilitando a evidência dos fatos coletivos" (THOMPSON, 1992, p. 17).

Deste modo, procurou-se informações ricas através dos diálogos orais, que possibilitassem a análise subjetiva dos acontecimentos que levaram ao tombamento da Igreja de São José de Mossâmedes como patrimônio histórico. É, portanto, na memória das pessoas que há a possibilidade de compreender a sua importância e seu contexto, contribuindo, assim, para o processo de entendimento da identidade dos mossamedinos.

Além destes procedimentos teórico-metodológicos realizados dentro da sala de aula, os alunos do 4º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Antônia Barbosa Alves foram levados a uma aula de campo, onde puderam perceber de perto a importância de tal monumento histórico para a memória e para a preservação da identidade local. O propósito da visita foi mostrar a igreja não apenas como um local da religiosidade cristã, mas como um lugar de memória que nos remete aos primeiros anos da formação de nossa cidade, quando esta era uma aldeia, criada para a residência de numerosos índios das sociedades caiapó, acroá e carajá.

Como ponto primordial deste projeto de intervenção, buscou-se junto ao poder público a conscientização das pessoas para a manutenção e reforma geral da Igreja Matriz de São de José, uma vez que o pároco, juntamente com as autoridades competentes, procurou, desde o ano de 2012, a restauração da igreja, conforme documentos em anexo, a qual se encontra em péssimo estado de conservação. Para isso, foi feita uma parceria com a Associação dos Vicentinos, órgão da igreja Católica, e o pároco Marques Martins, através de um abaixo-assinado em prol dessa reforma tão necessária nesse patrimônio histórico local. Tal documento foi encaminhado ao Poder Executivo local e foi entregue pessoalmente pela prefeita de Mossâmedes ao Poder Executivo Estadual.

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RESULTADOS

Falar em patrimônio histórico cultural material em Mossâmedes é buscar memórias sobre um passado marcado por lutas indígenas, por um espaço territorial e por colonizadores que buscaram empregar nesta sociedade uma "cultura", não reconhecendo a ideia de que todos os seres humanos são detentores de cultura e que as sociedades indígenas não aceitariam abrir mão de seus costumes e crenças para tornarem-se "civilizados". E, por isso, fugiram do aldeamento e se embrenharam nas matas como forma de manter suas tradições culturais.

Em Mossâmedes não existem museus, mas sim locais/instituições culturais que apresentam um forte contexto histórico, carregado de significados que remetem à memória coletiva passada de geração a geração, como é o caso da Igreja de São José, que se tornou para a cidade um local de memória, de rememoração do seu passado.

A Carta das Cidades Educadoras, criada a partir do I Congresso Internacional das Cidades Educadoras, estabeleceu princípios que versam "três dimensões da relação educação-cidade: aprender na cidade, aprender da cidade e aprender a cidade" (CARTERI, 2014). Por isto, o projeto de intervenção focou o estudo do contexto histórico da cidade e a aula de campo onde os alunos puderam, através da visita, aprender na sua própria cidade a importância do patrimônio histórico para a memória e a identidade local. Assim, a cidade de Mossâmedes, com suas especificidades, desempenha uma forte afirmação na identidade social local dos mossamedinos.

Com este projeto, procurou-se pensar a igreja não apenas como um patrimônio cultural material, que foi reconhecido e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) por sua significância histórica do período colonial do Estado de Goiás, mas, também, como um local de memória e de identidade da população mossamedina. Buscou-se ver a igreja não somente como um espaço religioso, mas como um espaço de história e de formação cultural.

Os objetivos propostos foram alcançados. As crianças se envolveram bastante em todas as atividades desenvolvidas e percebe-se que agora ficou mais claro para elas o que é patrimônio histórico e a sua importância para a preservação da memória local.

Através da ação social promovida por meio de um abaixo-assinado e com o apoio da comunidade, da Associação dos Vicentinos, da Paróquia de São José e do poder público, a reforma da Igreja Matriz de São José foi viabilizada. Ainda acontecerá no ano de 2016, mas as providências já estão sendo tomadas, pois no mês de julho de 2015 dois engenheiros da Secretaria de Estado da Cultura (SECULT) vieram até a cidade para analisar as estruturas físicas da igreja, fazer o orçamento e a planta da mesma, uma vez que na Paróquia não há esses registros de planta e das medidas desse patrimônio histórico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi um trabalho de campo de bastante aproveitamento para a unidade escolar. De forma geral, todos os alunos e professores de 1º ao 5º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Antônia Barbosa Alves foram envolvidos nesse projeto, porém, o foco maior de discussão foi com a turma do 4º ano. Os alunos receberam materiais para leitura e conhecimento da história local, foi discutido o conceito de patrimônio e tombamento e, assim, procurou-se mostrar e visualizar a significância da Igreja de São José de Mossâmedes para a manutenção da memória local e de formação da cidade, período em que esta era um "aldeamento modelo".

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Como ápice do Projeto de Intervenção, foi realizado junto com a Paróquia de São José e a Associação dos Vicentinos um abaixo-assinado para a reforma da Igreja. Aproximadamente mil assinaturas foram colhidas. As listas foram deixadas nas escolas, confecções e pontos comerciais. Ao final, foram todas recolhidas e entregues ao Poder Executivo. A prefeita Divina Lúcia de Almeida Dias entregou o abaixo-assinado ao governador Marconi Perillo e o efeito proposto foi conseguido, pois já se iniciaram os levantamentos de dados para a reforma da Igreja, uma vez que a última reforma foi no ano de 2005.

Quando o abaixo-assinado foi passado na sala do quarto ano, percebeu-se o quanto o projeto de intervenção trouxe esclarecimento aos estudantes, pois um aluno evangélico, ao assinar a lista, disse aos colegas "Eu sou evangélico, mas assino o abaixo-assinado porque não estamos falando de religião e sim de um patrimônio histórico da nossa cidade que está precisando da atenção de nossos governantes". Assim, percebemos o quanto é importante desenvolvermos, nos anos iniciais, a importância da história local e a busca pela valorização patrimonial.

REFERÊNCIAS

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CARTERI, Karin Kreismann. A cidade educadora e a leitura. Revista Museu, (Revista Digital) jul. 2004. Disponível em: http://revistamuseu.com/artigos/art_.asp?id=4397. Acesso em: 20 de maio de 2015.

DELEUZE, G. Foucault. In: Um novo arquivista (Arqueologia do Saber). Tradução de Claudia Sant'Anna Martins. Revisão da tradução Renato Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 2006.

DELGADO, L. A. N. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

HALBWACKS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1993.

HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo.Revista Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 22, n. 2, p. 15-46, jul./dez. 1997.

HALL. S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu de Silva e Guacira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

NEVES, Margarida de Souza . Lugares de Memória na PUC-Rio. Disponível em. http://www.ccpg.puc-rio.br/memoriapos/lugaresmargarida.htm. Publicado em. setembro de 2007.

JENKINS, K. A história representada. São Paulo: Contexto, 2001.

OLIVEIRA, Vânia Dolores Estevam de.; KUNZLER, Josiane. Legislação e patrimônio cultural no Brasil. DVD, material didático da Especialização Interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania,Goiânia:UFG/NDH-CIAR, 2014.

SOUZA, B. B. A importância de Damiana da Cunha na construção de Mossâmedes (1774–1831). 2006. Monografia (Graduação em História) – Faculdade de Anicuns, Goiás, 2006.

THOMPSON. P. A voz do passado: história oral. Tradução de Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

UNESCO. Declaração Universal sobre Diversidade Cultural. Paris, 2005.