Governo Federal República Federativa do Brasil Ministério da Educação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Universidade Federal de Goiás

EM DEFESA DO DIREITO À EDUCAÇÃO ESCOLAR:

DIDÁTICA, CURRÍCULO E POLÍTICAS EDUCACIONAIS EM DEBATE

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SEÇÃO 4
AUTORA Polina Ivanovna Zapivalova
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O Ensino de RaFL para Fins Específicos em Termos de Metodologia Aplicada à Apropriação da Língua Russa por Alunos Estrangeiros em Cursos de Engenharia

Os métodos de ensino de línguas estrangeiras (FL), especialmente das disciplinas "Língua estrangeira" e "Língua Estrangeira de Comunicação Profissional" são cruciais para o desenvolvimento do ensino de línguas na educação moderna. Recente, realizações da linguística e da metodologia do ensino da RaFL forneceram uma profunda compreensão do papel e da influência do texto científico, enquanto eram trabalhados como linguagem específica.

‘Linguagem da especialidade ou linguagem específica’- É a realização da prática de uma fala científica e formal em um sistema onde é necessário o conhecimento da língua de uma forma específica e particular. Do ponto de vista metodológico, é uma forma de ensino específica e particular no ensino da língua estrangeira (FL), a qual permite uma educação científica e profissional, na comunicação de uma língua estrangeira (АЗИМОВ & ЩУКИН, 1999). Ainda segundo os autores, a linguagem da especialidade é um "subsistema de linguagem", caracterizada por um amplo uso de terminologia, predominante do uso de palavras, com seu significado direto e pela tendência de construções de sintaxe específicas (АЗИМОВ & ЩУКИН, 1993).

A Linguagem para um Propósito Específico LSP (Language for Specific Purposes) segundo Комарова (1996) é um tipo específico de “linguagem em si”, a qual usamos durante a comunicação de temas especiais. LSP heterogênea: de um lado está próximo do cotidiano, do outro lado possui uma linguagem específica com orientação conceitual específica.

Гальскова (2004, p. 15) afirma que os futuros engenheiros possuem a denominada "inteligência mecânica ou pensamento de engenharia", diferentemente dos estudantes de especialidades na área de humanas. Os alunos segundo o autor não apresentam linguistic feeling. É de conhecimento comum, que a falta de sentimento linguístico prejudica, consideravelmente, o domínio eficaz da língua estrangeira (FL). Este é o motivo pelo qual professores na atualidade de FL, usam novos métodos e abordagens educacionais efetivas no ensino, para motivar seus alunos.

O principal objetivo do ensino de língua russa para estrangeiros, é o desenvolvimento de atividades de escrita e fala. Galskova (2004) diz que o foco deve centrar-se na capacidade de treinamento, por meio de observações, produzindo uma maior compreensão a partir de situações autênticas no contexto das atividades propostas.

Atualmente, os textos, no campo da Engenharia, são as principais fontes utilizadas nas aulas para despertar os motivos dos alunos quanto ao aprendizado da língua russa. Embora os materiais utilizados sejam específicos da área, ressaltamos que os mesmos, são preparados, paralelamente aos conteúdos trabalhados pelos alunos em seus respectivos períodos acadêmicos.

Na Nosov Magnitogorsk State Techical University - NMSTU (Magnitogorsk -Rússia), o ensino de linguagem de especialidade, em departamentos de engenharia, possuem aspectos que incluem o estudo de terminologia e fraseologia, por meio de vocabulário específico da Engenharia, promovendo o desenvolvimento da leitura e o domínio das estruturas gramaticais, que possibilitam a percepção e compreensão do conteúdo do texto. O domínio da leitura, tem levado os alunos, conforme observado no departamento de engenharia, a um desenvolvimento mais efetivo na fala do idioma russo.

Durante as análises, foram trabalhados textos relacionados as seguintes especificidades:

  • matemática aplicada e informática;
  • automação e controle;
  • máquinas e equipamentos tecnológicos;
  • operação de veículos;
  • informática e engenharia;
  • proteção ambiental.
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No contexto das preferências cognitivas, como linguagem de especialidades da engenharia e, especificidades do ensino de línguas, observou-se que o desenvolvimento cognitivo, dos estudantes de engenharia, difere dos principais princípios do pensamento organizacional dos estudantes das áreas de humanidade. Na comunicação em engenharia, temos características não-verbais (fórmulas, gráficos, diagramas, etc.) como meio necessário para o campo. Além disso, as características não-verbais podem determinar o termo informativo e didático para habilidades de estereótipos profissionais, exemplo «узел» e «unidade», «холостойход» e "corrida lenta".

Vygotsky (1978) afirma que o domínio de uma FL é contrário ao desenvolvimento do idioma nativo. Ainda segundo o autor, as crianças desenvolvem a linguagem nativa inconscientemente. Assim, podemos afirmar que dominar um idioma nativo, nessa perspectiva, vai do fim para o começo, e vice-versa.

Um conceito fundamental na aquisição da segunda língua, é o fato de que os estudantes criam um sistema de linguagens para estruturar a informação a eles apresentada, para gradativamente, desenvolvê-la e internalizá-la (HEALEY,1967). A criação deste sistemas de linguagens, pode explicar por que às vezes parece haver uma regressão ou diminuição no conhecimento, ou na formação das habilidades, isso porque, um princípio previamente desenvolvido no próprio sistema do aluno, deve ser reaprendido com a mediação do professor e com a introdução de uma regra gramatical na segunda língua. Este fenômeno na metodologia de ensino de línguas estrangeiras é conhecido como "des-automatização da habilidade". É uma questão clássica da teoria das habilidades e das atividades (VYGOTSKY, 1978; LEONTIEV, 1981; LEVELT, 1978), postulando que em certas condições, como a falta de prática, a fadiga, um estado altamente emocional, um alto ritmo de trabalho, as habilidades automatizadas podem falhar, de modo que elas precisem ser novamente automatizadas (PLATONOV,1984). Importante ressaltar que quando observamos alguns métodos de ensino de língua russa, nem todos colocam o aluno no centro do sistema, apesar da aquisição de uma segunda língua ser determinada por eles.

Existem seis princípios que orientam, metodologicamente, o ensino de estudantes estrangeiros: autenticidade dos materiais; orientação cognitiva dos estudantes; estrutura dos textos trabalhados; finalidades da educação em engenharia; interesses de hierarquia científico-profissional e o método dedutivo para o ensino de RaFL.

Ainda em termos de metodologia, adota-se como critérios de seleção: autenticidade dos materiais com exercícios múltiplos nas várias disciplinas de engenharia; A análise do desempenho oral dos alunos, em exercícios de gramática realizados em classe e em casa; uso de diagramas como ilustração; análise morfológica; transposição; Levantamento, pelos alunos, de palavras no texto que apresentam certo grau de complexidade, seja na pronuncia ou escrita; Construção de uma síntese do material trabalhado e por fim, a correção imediata dos erros gramaticais pelos próprios alunos.

O uso do periódico 'The Vestnik of Nosov Magnitogorsk State Technical University”, também, permite uma completa realização dos objetivos educacionais. São disponibilizados periodicamente aos alunos, textos que permitem maior apropriação da língua russa, a partir de temas como: terminologia técnica, sintaxe do discurso científico e seu material didático para leitura e anotação, gramática, entre outros. A leitura dos textos é acompanhada pelo professor, e deve ser precedida de exercícios que envolvem rico vocabulário. Importante ressaltar que os textos fornecem a ordem exata de apresentação de vocabulário e material gramatical.

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Por exemplo, a partir do artigo: “Московский центр лазерных технологий” (VOLKOVA, 2015), pede-se aos alunos:

  1. Leitura individual do texto e seleção de novas palavras.
  2. Análise do texto com o auxílio do dicionário. Verificar o significado de palavras e expressões desconhecidas no dicionário. Encontrá-los no texto. Construção de novas frases a partir das palavras destacadas.
  3. Ler o texto em voz alta.
  4. Dar as definições (usando maneiras diferentes).
  5. Responder as perguntas sobre o conteúdo do artigo. Existem diferentes tipos de perguntas e diferentes tipos de construções.
  6. Discutir as informações contidas no artigo.

Segundo Timokhina (2012) tem-se como objetivo a partir da aplicação de tais metodologias: ensinar aos alunos a compreensão completa do texto científico; adquirir novas informações com a forma adequada do significado da terminologia do autor; desenvolver o pensamento lógico baseado em textos científicos de especialidade; entre outras.

A utilização de textos orientados, ou específicos, visam, além do domínio da língua russa, o desenvolvimento de competência comunicativa profissional. Estes, são acompanhados por diferentes tipos de tarefas voltadas para a preparação da leitura de textos não adaptados e o desenvolvimento de habilidades relacionadas às atividades comunicativas orais. Assim, o propósito de aprender uma língua estrangeira em um departamento técnico na universidade é a obtenção de um nível suficiente para o uso prático da língua estrangeira na futura atividade profissional.

Os alunos estrangeiros que ingressam em cursos de engenharia na NMSTU, são encaminhados para o sistema de ensino RaFL, que tem como objetivo, preparar os graduandos para uma formação completa, a partir de um modelo educacional sistemático e flexível. Importante ressaltar que os alunos em sua grande maioria são oriundos dos seguintes países: França, Itália, Turquia, Cazaquistão e Uzbequistão.

Na primeira etapa, durante a audição, usamos filmes educacionais, que demonstram o processo de produção e fazem comentários sobre o conteúdo em língua russa. Além disso, os alunos têm informações gráficas representadas com comentários e com tradução das palavras chaves para o seu idioma. Precisamos mencionar a necessidade de traduzir o comentário em russo e definir a ideia principal e o tema do texto. É importante definir as construções difíceis e fazer os diálogos. E, no final, fazer seu próprio texto com os principais pontos do texto original. Como tarefa para casa, podemos usar o bloco de notícias ou a transmissão de rádio de obras de ferro e aço, como exemplo.

Na segunda etapa, os alunos podem dizer que estão absolutamente prontos para ouvir textos científicos em russo e que os alunos podem conversar sem ferramentas gráficas, responder às suas perguntas e traduzi-las facilmente.

Na última etapa de escuta, eles podem entender o texto diretamente sem qualquer preparação e sem exercícios de tradução e vocabulário.

De acordo com a nossa prática, 30-37% dos alunos chegam ao último estágio dominando suas habilidades de escuta, 59-60% deles param no segundo estágio, e apenas 3 a 11% dos alunos não podem se desenvolver ao longo da primeira fase.

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O principal meio do processo educacional é o texto orientado por profissionais, associado à futura profissão dos estudantes. A metodologia utilizada na NMSTU, recebe nome de tecnologia pragmática orientada. E o processo é considerado como método integrativo. A base metodológica é descrita como interconexão de:

  1. teoria do pensamento interconectado e do desenvolvimento da fala (VYGOTSKY, 1956; LEONTIEV, 2008; AHUTINA, 2008; ZIMNYAYA, 1999; ZHINKIN 1982; etc);
  2. abordagem de atividades para o desenvolvimento de diferentes tipos de atividades da fala (LEONTIEV, 1969; ЗИМНЯЯ 1999; PASSOV, 2002, etc.);
  3. teoria de três níveis de realização da atividade assimilada (LEONTIEV, 2005; LEONTIEV, 2008; DAVYDOV, 2000; GNEVEK, 1998; etc).

Utilizando-se de uma sequência metodológica, poderíamos dizer que, primeiramente, é necessário trabalhar com a terminologia, em seguida, abordagem dos principais conceitos presentes no texto, a partir de exercícios integrados, seguindo as formas de representação das informações cientificas. Por fim, levamos em consideração testes, realizados individual e coletivamente.

Conclui-se, então, que quanto mais cedo providenciarmos um vocabulário especial nas aulas durante o processo educacional, melhor obteremos vocabulário suficiente, significando certo valor léxico. Além disso, poderemos preparar nossos estudantes de certo nível para fazerem textos de suas próprias especialidades técnicas.

Sobre a autora

POLINA IVANOVNA ZAPIVALOVA • Possuí graduação em Automação e Engenharia da Computação e, mestrado em Teorias de Ensino da Língua Russa pela Nosov Magnitogorsk State Technical University (NMSTU), Magnitogorsk - Rússia. Foi membro do Instituto de Educação adicional ‘Gorizont NMSTU’, atuando como tradutora e professora de língua inglesa e língua russa.

Referências

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